Fruta silvestre é base de cervejas e fermentados similares aos espumantes Mais comum em sucos e caipirinhas, o maracujá agora também é matéria-prima de outras bebidas. Uma parceria entre a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e as unidades da Embrapa Meio Ambiente e Semiárido desenvolveu um fermentado gaseificado, similar ao espumante, a partir do maracujá-da-caatinga (Passiflora cincinnata), fruto nativo da Caatinga.
Leia também
Queijo brasileiro feito com maracujá é eleito um dos melhores do mundo; conheça
Maracujá exige espaço para desenvolver a planta
Receitas de queijos levam flores, maracujá e até cerveja
A bebida, que tem características semelhantes às do vinho branco, foi elaborada por métodos tradicionais de vinificação, incluindo a fermentação secundária na garrafa, processo similar ao da produção de espumantes, de acordo com a pesquisadora Aline Biasoto, da Embrapa Meio Ambiente.
Testes de aceitação indicaram que a bebida agradou aos consumidores, tanto nas versões sem adição de açúcar (nature) quanto nas com adição moderada (brut).
Com teor alcoólico próximo a 8ºGL, o fermentado gaseificado de maracujá — esse é o nome correto, pois a denominação espumante é restrita a bebidas derivadas da uva — apresenta aroma exótico, notas cítricas e florais, além de ser rico em compostos fenólicos com propriedades antioxidantes e sabor agridoce, refrescante.
O estudo da Embrapa aponta que o produto tem potencial para fortalecer a agricultura familiar e impulsionar a economia regional.
Variedade mais produtiva
Segundo Biasoto, serão feitos testes adicionais para escalonamento da produção industrial e a viabilização da entrada do fermentado de maracujá-da-caatinga gaseificado no mercado. “Se considerarmos apenas a qualidade da bebida, a garrafa pode ser comercializada a R$ 100”, afirma.
O fermentado foi elaborado a partir de uma variedade de maracujá pesquisada por 12 anos, a BRS Sertão Forte, lançada em 2016 pela Embrapa Semiárido como opção comercial estratégica para a região. Foi a primeira variedade de maracujá-da-caatinga desenvolvida para produção comercial. Ela tem melhor produtividade que as plantas nativas e frutos até três vezes maiores.
“A BRS Sertão Forte tem vantagens significativas para cultivo no semiárido, pois é tolerante à seca e tem grande potencial para o processamento agroindustrial, devido ao seu sabor marcante e alta intensidade aromática”, diz o pesquisador Saulo Aidar, da Embrapa Semiárido.
Natoniel Franklin de Melo, também pesquisador da Embrapa Semiárido, conta que a ideia era “apresentar opções alternativas para a bioeconomia da Caatinga”.
O maracujá-da-caatinga já era usado, desde 2019, na produção de cervejas artesanais, como a Maratinga Passion Fruit Beer
Divulgação
O maracujá-da-caatinga já era usado, desde 2019, na produção de cervejas artesanais pela Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), que tem 285 cooperados. Uma delas é a Maratinga Passion Fruit Beer, comercializada em todo o país.
“Produzimos aproximadamente 4 mil garrafas de 500ml por ano”, diz José Milton Barbosa da Silva, coordenador de produção da Coopercuc.
A entidade chegou a testar fermentados gaseificados, mas esbarrou em gargalos para produzir em larga escala, explica Silva.