Espaço social está localizado junto ao haras da família em Alagoas Reunir multidões em shows pelo Brasil, ser um cantor de sucesso e formar uma família com a esposa Débora Silva não são os únicos objetivos já conquistados por Mano Walter. O artista alagoano de 38 anos é apaixonado por cavalos e montou o Haras MW focado na raça Quarto de Milha, a mais popular e requisitada no meio esportivo.
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E foi a partir dessa realização pessoal que ele se inspirou para concretizar o que chama de “o grande sonho da vida”: um projeto de equoterapia que atende crianças neurodivergentes e com problemas no desenvolvimento motor de forma gratuita em Coqueiro Seco (AL).
O espaço batizado de “Equoterapia Santa Felicidade” utiliza parte da estrutura do haras e possui salas de atendimento médico e de fisioterapia, cozinha, banheiro e ambiente para receber os alunos que não estão em atividade com os cavalos, além de diversos profissionais, como neuropediatra, fisioterapeuta, veterinário, equitador e puxador.
“Tenho um sócio que fez o mesmo em Xerém (RJ), é uma coisa linda. Quando eu vi, falei que tinha que montar algo assim no meu haras. Eu fui lá visitar e me apaixonei. Ele atende mais de 200 crianças. Fiquei realmente encantado. Juntei amigos, fiz um leilão e conseguimos montar a estrutura. Agora, já estamos pensando em ampliar”, conta à Globo Rural.
Com a rotina intensa de shows, aliado ao trabalho de compra e venda de novos cavalos no haras, função que faz questão de participar, Mano deixa Débora à frente da equoterapia. Em 2024, ela representou o projeto na homenagem recebida no II Congresso Nordeste de Autismo pelo trabalho realizado com quase 50 crianças.
“Quando a gente estava apenas se conhecendo, ele me falou que tinha esse sonho. Na época, nem entendia direito, não conhecia bem o que era isso. E, hoje, a equoterapia faz parte da minha vida e também se tornou o meu sonho. Começamos a tirar do papel com a ajuda de muitos amigos em 2021. Eu participo mais e estou à frente, mas ele é muito presente, quer saber de tudo o que está acontecendo”, diz.
“Eu já fico mais na parte de manutenção e de selecionar os melhores animais, pois não é qualquer cavalo. Lidar com crianças precisa ter uma atenção a mais, porque o animal pode se assustar com algum movimento. Então, tem que ser um cavalo apto à equoterapia. Estou sempre em contato com amigos que têm cavalos mais trabalhados para saber se não querem vender. Mas também vou lá e converso com os pais e as crianças”, completa o cantor.
Mano Walter realiza o projeto de forma gratuita em Coqueiro Seco (AL)
Divulgação/Equoterapia Santa Felicidade
Como é o projeto?
A Equoterapia Santa Felicidade funciona quatro dias por semana (segunda a quinta-feira) em parceria com a prefeitura de Coqueiro Seco (AL), que faz a triagem dos inscritos e disponibiliza o transporte até o haras.
No local, cada criança é avaliada por um profissional que determina o melhor tratamento conforme a necessidade e se já é possível e, principalmente, seguro iniciar a montaria.
“Estudos dizem que, no mínimo, são 35 minutos em cima do cavalo para começar a ter um ganho no desenvolvimento. Uma criança com hipotonia de tronco, por exemplo, quando está em cima do cavalo, precisa estar firme, porque ele vai exigir que ela mantenha uma postura melhor. No fim de cada aula é feito um relatório para acompanhar a evolução”.
Uma das crianças do projeto, de acordo com Mano Walter, é portadora de hipotonia de tronco, doença caracterizada pela diminuição do tônus muscular e que pode causar flacidez e dificuldade de sustentação da cabeça e do tronco. Com os estímulos provocados pelo cavalo e as sessões de fisioterapia, melhorou a condição física, dando orgulho e emoção ao cantor.
“Ele era muito molinho. Quando ele sentava, ia pra frente, não conseguia sustentar o tronco, mas percebemos que está muito mais forte e firme. Essas coisas não têm preço. O pouco que fazemos muda tanto a vida dessas famílias que não tem preço receber um feedback de uma mãe agradecendo. Temos até uma lista de espera”.
A Equoterapia Santa Felicidade funciona quatro dias por semana (segunda a quinta-feira) em parceria com a prefeitura de Coqueiro Seco (AL)
Divulgação/Equoterapia Santa Felicidade
Os próximos passos
Com o sucesso da equoterapia, o casal pensa em expandir a estrutura e abrir mais vagas para que outras crianças da região tenham a oportunidade de trabalhar o corpo e a mente de forma integrada.
Outro objetivo é atender as mães que ficam sobrecarregadas pelos cuidados e oportunizar cursos para que tenham renda e melhorem a condição financeira.
“Temos o grande sonho de transformar isso em um instituto. A equoterapia é a nossa paixão, tudo começou com ela, mas queremos ir além e proporcionar outros atendimentos. Eu quero muito cuidar da mãe, porque a mãe, e agora que eu sou mãe, vejo o quanto ela está debilitada. A demanda é muito grande em cima dela”, revela Débora.
A abordagem terapêutica de utilizar cavalos como forma de promover benefícios físicos, psicológicos e sociais só orgulha o casal. Para a empresária alagoana, o retorno que, inicialmente, é visto no desenvolvimento dos alunos, também transforma a vida da família que tem a possibilidade de oferecer o tratamento gratuito a quem não pode pagar.
“Por causa do projeto, algumas pessoas nos perguntam se temos filhos neurotípicos. A resposta é não. Mas quando existe empatia e a gente escolhe olhar com amor, tudo muda. E o cavalo… ah, o cavalo transforma. Ele conecta, ele cura, ele ensina. É coisa de alma.”, finaliza.