A ideia é que o governo angolano conceda áreas para os agricultores brasileiros O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou “muito entusiasmado” com a ideia de desenvolver um projeto de parceria para o desenvolvimento agropecuário de Angola com apoio dos produtores e do governo brasileiros, de acordo com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
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“Despachei hoje [ontem] com o presidente Lula. Relatei o que vimos, as dificuldades, as oportunidades e mais: o que os Poderes do Brasil e Angola deveriam fazer para viabilizar o projeto”, afirmou o ministro ao grupo de empresários brasileiros que realizou uma missão à Angola nesta semana para conhecer o potencial produtivo do país africano. “Ele [Lula] ficou muito entusiasmado e aguarda o documento que as entidades farão”, completou Fávaro, que integra a comitiva presidencial brasileira em agendas na China a partir desta segunda-feira (12/5).
Os produtores chegaram nesse domingo (11/5) ao Brasil. Nesta semana, vão se reunir para formular o documento que irá basear a estruturação formal de um projeto bilateral para o desenvolvimento agrícola angolano. A ideia é que o governo de Angola conceda áreas para os agricultores brasileiros. Eles demonstraram interesse, mas querem envolver o Poder Executivo na proposta para ter garantias jurídicas no processo e acesso a financiamento para iniciar a produção do outro lado do Atlântico.
Cézar Rizzi, consultor da empresa Campo que já morou em Angola e atende produtores locais, ressaltou que a proposta brasileira precisa prever a participação dos empresários rurais de Angola no projeto de desenvolvimento agropecuário. Ele vê mais chances de sucesso para a parceria bilateral se ela contemplar os agricultores nativos e envolver a capacitação técnica do setor angolano.
“Em Moçambique, no Programa Pró-Savana, onde estavam participando o governo de Moçambique, o governo do Japão e o governo brasileiro, um dos motivos de as ONGs internacionais massacrarem o programa foi que não ficou claro a participação dos pequenos e grandes agricultores locais”, contou. “O empresário do agro nativo de Angola é muito orgulhoso, mas reconhece que o parceiro ideal é o empresariado do agro brasileiro”, completou.
Uma das lideranças do setor angolano afirmou reservadamente que o país precisa de investidores e parceiros que sejam “promotores ou alavancadores” do desenvolvimento local. O receio é que a falta de uma interação mais direta com os produtores angolanos possa “replicar a exclusão” do conhecimento e da evolução dos produtores nativos do país.
Na opinião dessa fonte, se houver unicamente o financiamento para os investidores brasileiros, Angola dará “um passo à frente e dois atrás”, pois o crescimento da produção e das técnicas de cultivo não serão repassadas e aprendidas pelos produtores locais. Ele pediu para que haja uma estratégia inclusiva aos produtores angolanos nos setores empresarial, cooperativo e familiar.
A principal expectativa dos empresários locais, organizados na Associação Agro-Pecuária de Angola (AAPA) e na Federação Nacional das Cooperativas Pecuárias de Angola (Fenacoopa), é com a atuação mais efetiva da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no país para a transferência de tecnologia e conhecimento por meio da extensão rural.
“Que finalmente, depois de tantos erros, consigamos aproveitar o extraordinário capital da Embrapa em termos de agricultura tropical”, disse ao Valor o engenheiro agrônomo Fernando Pacheco, membro do Conselho Estratégico da AAPA e fundador da ONG Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA).
Ele pregou cautela quanto ao otimismo “demasiado” com os investimentos brasileiros no país e reforçou que um projeto bem-sucedido dependerá de acertos institucionais que ainda não estão garantidos.
“Que sejamos capazes de estruturar um sistema adequado de extensão rural. Que tudo isso seja feito com um estudo sério da realidade angolana de maneira a evitar erros do passado”, completou.
Para Fernando Pacheco, Angola precisa de ajuda para o reforço das instituições públicas e privadas para que elas possam definir políticas adequadas e orientar a sua implementação.