Em seu primeiro balanço financeiro divulgado após a dupla listagem – com ações cotadas nas bolsas do Brasil e Estados Unidos, e sede na Holanda – a JBS reportou nesta quarta-feira (13/8) lucro líquido de US$ 528,1 milhões referente ao segundo trimestre de 2025, alta de 60,6% comparada ao mesmo período do ano passado.
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Os resultados foram impulsionados pelo bom desempenho das operações de frango do grupo, com a americana Pilgrim’s Pride e a brasileira Seara.
No caso da Seara, a empresa entregou indicadores positivos no trimestre mesmo com o desempenho de junho prejudicado por um caso de gripe aviária em granja comercial em outra companhia no Rio Grande do Sul, mas que levou a suspensões temporárias nas exportações de carne de frango de todo o Brasil a diversos destinos.
Além disso, a JBS bateu um novo recorde na receita líquida, que alcançou US$ 20,99 bilhões no período ao crescer 8,9%, na variação anual.
Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado caiu 7,4% no segundo trimestre, para US$ 1,753 bilhão, pressionado pelo desempenho negativo da operação de carne bovina nos Estados Unidos, que passa por um forte aperto nas margens.
“A gente está vivendo um momento desafiador nos Estados Unidos e conseguimos entregar esse resultado mesmo com um terço do nosso negócio com margem negativa. Mostra a força da nossa plataforma”, disse ao Valor o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni.
O Ebitda ajustado da JBS Beef North America ficou negativo em US$ 233 milhões no segundo trimestre, versus um resultado positivo em US$ 29 milhões um ano antes. A receita líquida da unidade, porém, subiu 13,6% para US$ 6,8 bilhões.
“Se está difícil com beef (carne bovina) nos Estados Unidos, está melhor na Austrália, está melhor no Brasil, mas principalmente está melhor no frango”, comentou o executivo.
A Pilgrim’s Pride foi um destaque positivo, com avanço de 4,5% no Ebitda ajustado, para US$ 817,7 milhões, e crescimento de 4,4% na receita para US$ 4,75 bilhões.
No Brasil, a Seara registrou uma queda de 2,5% na receita líquida do trimestre, para US$ 2,16 bilhões, mas o Ebitda ajustado se manteve positivo e aumentou 1,2% para US$ 391,8 milhões.
Tomazoni lembra que a ocorrência da gripe aviária no Brasil gerou, sem dúvida, um impacto importante para o mercado. Segundo ele, em junho, os desdobramentos da doença tiveram efeito de 5% para a margem Ebitda da Seara.
Uma vez que o Brasil foi declarado livre de gripe aviária em granjas comerciais pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), no fim de junho, Tomazoni acredita que não há mais razão para que as exportações brasileiras de frango continuem suspensas por alguns compradores, como a China e União Europeia.
“São mercados importantes. O presidente (do Brasil, Luiz Inácio) Lula (da Silva) está se envolvendo diretamente nas negociações e o mercado da China valoriza alguns cortes que outros mercados não valorizam, como as patas”, exemplificou.
O diretor de finanças e relações com investidores da JBS, Guilherme Cavalcanti, acrescentou que o Ebitda do grupo pode continuar a ser afetado pela questão de baixa oferta de gado nos EUA, tanto neste ano quanto no próximo, mas há perspectiva de melhora na área de suínos.
A JBS USA Pork marcou queda de 4,8% na receita do segundo trimestre, para US$ 2,06 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado subiu 5,6%, para US$ 253,6 milhões.
Da operação na Austrália vieram alguns dos avanços mais expressivos, de 28,5% no Ebitda ajustado, a US$ 290,2 milhões, e 19,4% em receita, a US$ 1,97 bilhão.

Tarifas dos EUA
O CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, disse nesta quarta-feira (13/8) que “olhando a JBS como um todo, o impacto (das tarifas dos Estados Unidos contra o Brasil) não é material”. Em entrevista ao Valor para comentar os resultados trimestrais da empresa, ele destacou que é cedo para estimar os efeitos, mas ressaltou que os produtos estão indo para outros mercados.
O presidente americano, Donald Trump, aplicou uma taxação de 50% sobre os produtos brasileiros que passou a valer neste mês, mas a carne bovina já contava com uma tarifa de 26,4% e, com a nova medida, foi para 76,4%.
Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS
Silvia Zamboni/Valor
“Se o Brasil exportar menos para os EUA, alguém vai cobrir esse espaço. Se os EUA for melhor (comprador), a Austrália vai realocar, o Brasil, da mesma forma, está realocando (vendas) para outros mercados”, afirmou o executivo.
No caso da JBS, segundo Tomazoni, a diversificação geográfica constituída pela empresa ao longo do tempo foi pensada para conseguir arbitrar em momentos como esse.
“Nós construímos essa plataforma para isso, para fazer esse tipo de operação em eventos que a gente não controla, é um processo natural dentro da JBS”, enfatizou o CEO.
O governo brasileiro e os representantes da indústria nacional já declararam que há dificuldade para estabelecer um diálogo com o governo americano sobre as tarifas e, em uma das frentes, pedem apoio a empresas do Brasil que atuam nos EUA.
Questionado sobre o posicionamento da companhia nestas negociações, Tomazoni disse que a JBS tem priorizado manter contato sobre o tema através das associações, por representarem os interesses do Brasil como um todo.
“A gente acha que as associações têm que se fortalecer”, comentou, citando que algumas das pontes de contato são a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) e a câmera de comércio americana Amcham.