
A lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR, na sigla em inglês) não gera dor de cabeça apenas para os exportadores brasileiros de soja, carne bovina, couro, café, borracha natural, óleo de palma, cacau e madeira. Agricultores europeus criticam a burocracia do regulamento e pedem o adiamento da aplicação das regras.
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“Ela vai ser adiada porque impõe muitos problemas para os agricultores franceses e aos outros europeus. É uma lei que causa problemas. A Comissão Europeia é bastante burocrática e não tanto pragmática”, disse a jornalistas Arnold Puech d’Alissac, presidente da Organização Mundial de Agricultores (WFO, na sigla em inglês).
Recentemente, a Comissão Europeia sugeriu o adiamento por um ano da implementação das regras sobre pequenos produtores, para 30 de dezembro de 2026. Para médios e grandes, o regulamento valerá a partir do fim de 2025, mas a proposta é que a fiscalização, com exigência de rastreabilidade completa dos produtos, seja feita a partir da metade do ano que vem. A lei vale tanto para exportadores quanto para a produção local, por isso a preocupação dos agricultores europeus.
D’Alissac não sabe se o adiamento aos pequenos produtores, se efetivado, será suficiente para a adaptação dos europeus e exportadores.
“Não sei como isso vai ser feito”, disse. “Não temos como ver no DNA do grão [que ele veio de área não desmatada recentemente]. Você vai encontrar um meio de certificação que uma organização vai dar, mas você não pode analisar o DNA do grão. Toda a rastreabilidade da cadeia alimentar, você não tem como verificar isso”, salientou.
Segundo o dirigente, que é membro do conselho da Federação Nacional dos Sindicatos de Exploração Agrícola (FNSEA, na sigla em francês), países africanos, como Costa do Marfim e Nigéria, produtores de cacau, serão mais prejudicados. “Não sabemos viver mais sem cacau”, brincou.
O presidente da WFO disse que não vê protagonismo “suficiente” da agricultura nos debates sobre ações climáticas. Ele disse que é preciso mostrar que o setor não é o vilão das emissões de gases de efeito estufa.
“Nós somos acusados de sermos responsáveis por 25% a 40% da emissão de gás carbônico, ou seja, a alimentação é responsável pela emissão de gás carbônico no planeta. Temos que fazer o esforço como os demais setores econômicos fazem para provar que não é exatamente assim, que nós não somos os vilões”, afirmou na conversa com os jornalistas.
Segundo ele, o financiamento aos agricultores para ações de combate às mudanças climáticas ainda é tímido.
D’Alissac afirmou ainda que o problema do Brasil é o desmatamento ilegal e não o desmatamento em si. “É isso que temos que observar e distinguir. Porque a floresta amazônica, por exemplo, como a floresta francesa, sequestra o carbono.”





