Guarani MAAB, o reprodutor de elite que tem valor estimado em R$ 600 mil
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Jumentos nordestinos se tornaram notícia recentemente pelo abandono em estradas da região Nordeste e pela decisão da Justiça de permitir o abate desses animais. Essa condição, no entanto, passa longe das criações do Sudeste e Centro-Oeste do país. Nessas regiões, bons reprodutores são valiosos e comercializados por valores em média, de R$ 120 mil.
Mas há um animal que supera e muito essa média. É o Guarani MAAB, do criador Marco Antônio Barbosa, da Fazenda Boi Branco da Serra. O jumento é avaliado em R$ 600 mil. Exemplares como esse integram programas de melhoramento genético e, assim como animais de elite de outras espécies, como cavalos e bovinos, participam de exposições, julgamentos e leilões.
Alguns reprodutores são exportados para países da América do Sul. Além de serem usados como tropas de trabalho, os asininos e muares também participam de concursos em todo o país que distribuem premiações que somam cerca de R$ 350 mil por ano.
Cristiano Carvalho Marzola é criador de jumentos há 28 anos em Uberaba (MG). Ele conta que começou aos 14 anos, por influência do avô e de um tio que já eram criadores. Seu primeiro animal, Nesso de Passatempo, era um reprodutor da raça pêga de linhagem já reconhecida.
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“Meu objetivo era produzir animais para trabalho nas grandes fazendas. Era uma raça que não tinha muitos animais bons disponíveis e por isso fiz parcerias para conseguir formar um plantel na fazenda que meu pai comprou em Uberaba”, diz Marzola, dono da Fazenda Certeza, que já produziu mais de 600 animais e tem hoje 4 reprodutores e 27 matrizes jumentas.
Vice-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Jumento Pêga, (ABCJPêga), ele destaca entre seus reprodutores Himalaia da Certeza, várias vezes campeão da raça, e o filho dele, Patrimônio da Certeza, que conquistou o título de grande campeão na Exposição Nacional da raça neste ano.
Questionado se a criação de jumentos é um negócio rentável, Marzola, que se declara mais “jumenteiro” do que “muladeiro”, diz que “paga bem as contas”. Ele vende reprodutores para criadores do país todo por preços de R$ 20 mil a R$ 100 mil e diz que também há comércio de coberturas de jumentas e éguas, que custam de R$ 3 mil a R$ 5 mil.
Segundo o criador, a valorização não se restringe aos jumentos. Mulas campeãs de pista também podem chegar aos R$ 100 mil.
“Existe uma paixão pelas mulas no país pela tradição dos tropeiros. São animais que chamam atenção pela docilidade e servem tanto para o trabalho pesado como para competições, inclusive infantis. Tem também a chamada ‘mula de patrão’ (animal mais valorizado que é chamado assim porque é usado geralmente para transporte do dono das fazendas).”
O pecuarista Martin Franck Herman iniciou na atividade criando mulas em 1998 em Itapetininga (SP). Para melhorar seu plantel, decidiu criar também jumentos. “Fui o primeiro criador do país a produzir muares com o grande campeão Juazeiro do Paschoal, da raça pêga.”
No Criatório Campeãs da Gameleira, ele mantém três reprodutores fixos da raça e mais sete rotacionais, além de 38 jumentas matrizes e 35 éguas. Por ano, produz para venda de 33 a 35 crias de jumentos e 30 crias de muares.
Martin Herman produz por ano mais de 30 crias
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Segundo Herman, alguns animais são vendidos por R$ 5 mil, mas o preço médio dos jumentos varia de R$ 25 mil a R$ 30 mil. Animais melhores custam de R$ 50 mil a R$ 100 mil, enquanto os destaques da raça passam de R$ 500 mil. “Há criadores que colocam preço em seus campeões de até R$ 1 milhão porque não querem mesmo vender os animais.”
No caso das fêmeas, as jumentas comerciais também custam de R$ 5 mil a R$ 15 mil, mas as grandes fêmeas são vendidas por até R$ 300 mil. Geralmente, diz, as matrizes são menos valorizadas que os reprodutores, mas, neste ano, houve uma “bolha de mercado” e elas estão valendo mais que os machos.
Em 2006, Herman levou três jumentos e uma mula para uma exposição nos Estados Unidos e foi considerado o melhor criador desses animais pelos americanos. Em 2023, os jumentos da Gameleira marcaram a volta dessa raça à Expointer, em Esteio (RS), após uma ausência de 34 anos. Os animais não participaram de julgamentos, mas foram convidados para a exposição devido ao interesse de criadores pelo cruzamento com éguas.
Herman diz que já exportou animais para México, Argentina, Paraguai, Venezuela e Colômbia e recebe muitas visitas todos os anos de criadores do mundo todo interessados em conhecer a raça pêga. “Meu sonho é levar meus animais e fazer negócios na Equitana, maior festa de equídeos do mundo que se realiza desde 1972 a cada dois anos na Alemanha, terra onde nasceu minha mãe.”
Wilson Brockman, à direita na imagem, é criador de jumento nacional
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Em Itaquiraí, no Mato Grosso do Sul, o fazendeiro de grãos, criador de gado nelore e de cavalos quarto-de-milha Wilson Brockman também cria há 35 anos jumento nacional, raça que teve o início de sua seleção em 1939, na fazenda da Agência Paulista de Tecnologia do Agronegócio (Apta), Regional de Colina, vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
“Gosto muito de tropa. Tenho diversas fazendas no Estado e comprava muitos animais para tropa de serviço, mas observei que a qualidade não era muito boa. Aí decidi criar na Fazenda Maragogipe jumentos, mulas e burros para atender nossa necessidade. Depois, passei a atender a demanda crescente do mercado.”
O produtor diz que, apesar da mecanização avançar nas propriedades agrícolas, os asininos e muares mantêm seu espaço porque são muito resistentes a altas temperaturas, têm bom andamento e transportam com mais comodidade o vaqueiro que cuida do gado, além de carregar peso em fazendas com áreas montanhosas ou bastante inclinadas.
“Vendo os jumentos e muares em leilões de terceiros e na própria fazenda para produtores de todo o país e também do exterior. A demanda de criadores interessados no jumento nacional para produzir muares de qualidade aumentou muito nos últimos anos. Recentemente, um fazendeiro da Bolívia veio atrás de um reprodutor acima de 2 anos, mas eu só tinha animais de um ano”, diz Brockman. O preço varia de R$ 30 mil a R$ 120 mil por jumentos de genética muito pura.
Com 110 asininos e muares em seu plantel, ele diz que na seleção e melhoramento do jumento nacional não há mistura com os da raça pêga ou os nordestinos e que o diferencial da raça é a docilidade, resistência e longevidade. Os reprodutores trabalham até 23 anos e depois se aposentam na fazenda.