A deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT-CE), que ficou seis dias detida em Israel após embarcar em missão humanitária, denuncia que o país está desrespeitando diversas leis do direito internacional nos ataques feitos a Gaza e que é preciso que o mundo se articule em relação a isso.
“Todo povo, inclusive que está em guerra, ele merece, pode ter um corredor humanitário criado. Isso é do direito das leis internacionais, inclusive de guerra. Então Israel está descumprindo tudo”, disse ela. A declaração foi feita na manhã desta sexta-feira (17), em entrevista exclusiva ao jornalista Miguel Anderson Costa, no programa Balanço Geral Ceará Manhã, da TV Cidade Fortaleza.
Ela destaca que Israel está impedindo a chegada de ajuda humanitária à população local, atingida pelos bombardeios. A parlamentar defende que o bloqueio à Faixa de Gaza representa uma violação sistemática de direitos humanos, agravada pelo uso de fome como arma de guerra contra o povo palestino.
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Segundo ela, a missão da qual participou tinha como objetivo romper o cerco e abrir um corredor humanitário, o que, se tivesse sido alcançado, permitiria a entrada de navios de outros países com suprimentos. “O grande desafio era abrir o corredor humanitário. Porque, na hora que as embarcações chegam, mesmo sem toda a alimentação que Gaza precisaria, o corredor precisaria se manter aberto”, afirmou.
Prisão e maus-tratos durante a missão
Luizianne Lins também relatou detalhes da interceptação e prisão dos integrantes da flotilha por forças israelenses, que os impediram de chegar a Gaza. Ela contou que o grupo foi detido em águas internacionais, levado à força para o porto israelense e posteriormente mantido em um presídio de segurança máxima, sob condições degradantes, ressaltando que chegou a viver privação de sono, de água e de comida enquanto esteve sob poder das forças israelenses.
Segundo Luizianne, os integrantes da missão foram detidos sob “forte aparato policial” e levados à prisão após cerca de 15 horas de travessia em alto-mar, durante as quais ficaram sob vigilância e sem acesso a água potável.
“Tinham dito que iam nos tratar como terroristas de estado. I,nclusive nós fomos quarta-feira, na quinta amanhecemos lá, passamos o dia inteiro, na quinta-feira, sem comer, sem ir no banheiro, sem tomar água, até chegar à noite no presídio. Chegamos na quinta-feira à noite. E pasmem: na madrugada, primeiro que eles o tempo inteiro faziam terror psicológico e privação de sono, de em uma hora entrava exército israelense na cela, uma cela que era para ter cinco pessoas tinham onze, no meu caso”, narra Luizianne Lins.
A deputada relatou ainda as condições degradantes impostas logo após a chegada ao território israelense. “Fomos obrigados todos a ficar de joelhos com cotovelos no chão, segurando o passaporte na frente, com a cabeça no chão. Ficamos mais de uma hora nessa situação”, disse. Segundo ela, mais de 200 ativistas foram submetidos ao mesmo tratamento e mantidos “debaixo do sol, no asfalto, como forma de humilhação”.
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A parlamentar também revelou ter sido pressionada a assinar um documento declarando-se terrorista, o que recusou. “O documento dizia que eu era terrorista e eu tinha que assumir que era terrorista ao assinar”, afirmou, acrescentando que o ministro israelense da Segurança Nacional chegou a visitá-los na prisão acompanhado de câmeras e soldados. “Ele disse: ‘estou aqui para ajudar vocês a saírem daqui, desde que assinem o documento que diz que vocês são terroristas, são ligados ao Hamas’”, contou.
Luizianne classificou a experiência como humilhante, mas destacou que a realidade enfrentada pelos palestinos é ainda mais dura. “Com tudo que a gente passou, eu penso que não chega nem próximo ao que milhares de palestinos passam naquela mesma prisão”, observou, destacando que há 10 mil palestinos presos no local, incluindo 400 crianças.
Ao comentar sobre a situação em Gaza, ela descreveu o cenário como de destruição total. “Ali é escombro. As pessoas estão voltando para o nada. Está tudo destruído. Reconstruir a vida do zero sem água, sem alimentação, sem nada”, disse.
Defesa da causa palestina e apelo internacional
Durante a entrevista, Luizianne defendeu a necessidade de uma força-tarefa mundial para reconstruir a Faixa de Gaza e promover um acordo duradouro que envolva a própria população local. “O acordo precisa ser construído com o povo palestino que há tanto tempo sofre”, afirmou, ressaltando que “é um processo de resiliência de mais de 80 anos”.
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Luizianne desembarcou no Brasil na última semana, após ter ficado seis dias detida em Israel. Ela chegou ao Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, tendo vindo para Fortaleza em seguida.
A parlamentar estava em missão oficial da Câmara dos Deputados como observadora internacional na flotilha humanitária que levava alimentação, fórmulas infantis e medicamentos a moradores da Palestina. O grupo foi detido no último dia 2 de outubro, em águas internacionais, enquanto participava da missão humanitária. A interceptação pelas forças israelenses aconteceu fora do mar territorial de Israel.
Após a detenção, a deputada e mais 12 brasileiras e brasileiros foram deportados para a Jordânia pelo Governo de Israel no último dia 7 de outubro.
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