
Pelo menos um grande investidor desmontou uma posição em títulos de dívida externa (“bonds”) da Raízen – joint venture entre Cosan e Shell -, derrubando o valor do papel no mercado secundário e ajudando a trazer mais questionamentos do mercado sobre a provável reestruturação da companhia. Na manhã desta sexta-feira (10/10), o título com vencimento em 2054 chegou a ser negociado a 70% do valor de face. Há pouco estava em 80%.
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Fontes afirmaram que existe uma expectativa de perda de rating no curto prazo e que investidores podem estar se antecipando, já que alguns fundos só têm mandato para alocar recursos em ativos com grau de investimento.
A Raízen vem conversando com investidores a respeito do processo de venda de ativos para ajudar a ajustar o balanço. A empresa já vendeu usinas e colocou à venda sua refinaria e postos de combustíveis na Argentina.
Fontes afirmaram ainda que nos dois últimos dois dias houve “pânico generalizado”, sendo que uma das visões é que as preocupações aumentaram depois de encontros realizados com a administração da Raízen e Cosan. Um interlocutor próximo das empresas afirma que um processo de reestruturação e aumento de capital deve se desenrolar ainda neste ano.
A percepção, segundo fontes de mercado, é que a companhia terá de fazer um processo formal de reestruturação e aumento de capital. O movimento terá que ser discutido com os novos sócios de Rubens Ometto na Cosan, o BTG Pactual e a gestora Perfin. O grupo de Ometto e a Shell têm, cada um, 44% de participação na Raízen. Os 12% restantes estão pulverizados no mercado – a companhia fez sua estreia na bolsa (IPO, na sigla em inglês) em agosto de 2021, avaliada em R$ 76 bilhões. No fechamento de ontem, a empresa estava avaliada em R$ 9 bilhões na bolsa.
Resultados fracos
A Raízen encerrou o primeiro trimestre da safra 2025/26 com prejuízo líquido de R$ 1,8 bilhão e Ebitda ajustado de R$ 1,89 bilhão, queda de 23,4%. Já sua dívida líquida teve um salto de 55,8% em 12 meses e alcançou R$ 49,2 bilhões em junho, fazendo com que a alavancagem fosse a 4,5 vezes.
Outro lado
Procurada, a Raízen não comentou até a publicação desta reportagem.
Após a publicação, a empresa divulgou fato relevante afirmando que “não está considerando qualquer forma de reestruturação de dívida ou pedido de recuperação judicial ou extrajudicial”.
A Raízen disse que “mantém posição robusta de caixa, com R$ 15,7 bilhões em disponibilidades ao final do 1º trimestre da safra 2025/26, e R$ 5,5 bilhões (US$ 1,0 bilhão) em linhas comprometidas de crédito rotativo (RCF) disponíveis, e segue executando sua estratégia de gestão financeira voltada à otimização do perfil de endividamento e da estrutura de capital”.
A companhia acrescentou que” foi informada por seus acionistas controladores de que seguem em curso discussões e avaliações sobre alternativas de capitalização da Raízen, com o objetivo de fortalecer sua estrutura de capital e apoiar sua estratégia de longo prazo”.
(Colaborou Camila Souza Ramos)