Com a inauguração, em 1º de agosto, da primeira fase de sua biorrefinaria em Balsas, no Maranhão, a Inpasa quer intensificar o aproveitamento do sorgo na produção do etanol e atuar como agente de fomento da cultura no país. Flávio Peruzzo, vice-presidente de Negócios e Originação da empresa, diz que o sorgo ainda é um mercado novo do etanol de cereais, mas a intenção da Inpasa é processar 50% de milho e 50% de sorgo.
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“Quem vai ditar muito essa dinâmica é o próprio mercado, mas nossa predisposição é dar bastante lastro para o sorgo para que essa cultura possa de fato se desenvolver, já que tem uma necessidade hídrica menor que a do milho”, diz o engenheiro agrícola, que está na companhia desde 2018, no início das operações no Brasil, e antes trabalhou sete anos no berço da Inpasa, no Paraguai.
Peruzzo afirma que, em anos de janela mais curta para o milho ou em regiões que tipicamente não produzem milho, a dobradinha soja e sorgo pode viabilizar uma segunda safra. “O principal não é substituir o milho e sim ser uma nova cultura em regiões que nunca fizeram segunda safra.”
Tradicionalmente, a Inpasa compra a matéria-prima dos produtores locais. No Maranhão não será diferente. Mas, para incentivar o aumento da produção de sorgo, a empresa vai oferecer oportunidade aos produtores da região de travar contrato futuro. Para a unidade baiana de Luís Eduardo Magalhães, que deve ser inaugurada em abril de 2026, por exemplo, o executivo diz que já foi comprado muito sorgo para receber a partir de junho de 2026.
Atualmente, apenas as duas unidades do Mato Grosso, Estado que tem a maior produção de etanol de cereais da companhia com o processamento de 6,5 milhões de toneladas de milho, não recebem sorgo. Nas duas plantas do Paraguai, o sorgo já é matéria-prima.
“Estamos numa curva de aprendizado tanto comercial, quanto industrial de uso dos produtos derivados do sorgo. No Mato Grosso, esse cereal deve integrar a cadeia de suprimentos em um segundo momento.”
O Mato Grosso é o maior produtor de milho do país, com cerca de 50 milhões das 115,9 milhões de toneladas em 2024. Já o sorgo tem uma produção bem menor: 4,3 milhões de toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Flávio Peruzzo, vice-presidente de Negócios e Originação da Inpasa
Eliane Silva/Globo Rural
Sem óleo
Peruzzo diz que o processo industrial para produzir etanol com milho ou sorgo é semelhante, mas os insumos para a produção com sorgo custam mais e a rentabilidade industrial é menor. Uma grande diferença entre os dois cereais é que o sorgo não produz óleo. O equilíbrio ocorre porque a tonelada do sorgo custa menos que a do milho.
Já a produção de DDGs (Dry Distillers Grains with Solubles), coproduto do milho resultante do processo de fabricação do etanol que ganha cada vez mais espaço na composição da ração animal, é muito parecida. Segundo o executivo, toda a produção de DDGs da primeira unidade da empresa no Nordeste ficará no mercado interno.
“A Inpasa já exporta uma fatia expressiva da sua produção das unidades do Centro-Oeste, mas, aqui no Maranhão e na indústria em construção em Luís Eduardo, o foco é 100% mercado interno”, afirma o executivo.
O óleo de milho e o DDGS que vai para nutrição principalmente do gado de corte e leite, mas também de aves, suínos, peixes e pets, representam atualmente cerca de 25% do faturamento da Inpasa, que fechou 2024 com R$ 14,8 bilhões e estima chegar a R$ 24 bilhões neste ano devido à nova planta do Maranhão e às ampliações de outras unidades.
Investimento
A planta de Balsas, que demandou investimento de R$ 2,5 bilhões, que incluíram pela primeira vez um financiamento externo de R$ 600 milhões do Banco do Nordeste, já deve inaugurar sua segunda e última fase em setembro. Desde o lançamento da pedra fundamental até o início da operação, passaram apenas 16 meses.
“A gente tem um modelo de negócio. Fazemos muito estudo, prospecção prévia e temos uma equipe de engenharia multidisciplinar e de gestão da obra muito robusta. Quando começamos a construir, entramos com tudo para seguir o cronograma e costumamos ter um bom ritmo. Isso é fruto de quase 18 anos de história.”
Em Balsas, devem ser processadas por ano 2 milhões de toneladas de milho e sorgo por ano, com produção de cerca de 925 milhões de litros de etanol, 490 mil toneladas de DDGS e 47 mil toneladas de óleo vegetal. No total, a empresa de cerca de 2.700 funcionários tem capacidade instalada em suas cinco unidades no Brasil para produzir 5,8 bilhões de litros de etanol por ano, 3 milhões de toneladas de DDGS, 245 mil toneladas de óleo vegetal e mais de 1.500 GWh de energia elétrica renovável.
*A jornalista viajou a convite da Inpasa