A Climate Action Solutions & Engagement (C.A.S.E.), uma iniciativa de seis empresas brasileiras (Bradesco, Itaú, Natura, Nestlé, Vale e Marcopolo) para discutir projetos de soluções climáticas na COP 30, de Belém, vai apresentar em seu espaço na Conferência das Partes o Programa Reverte, voltado para o financiamento da conversão de pastagens degradadas no Brasil.
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O programa, criado por Itaú, Syngenta e The Nature Conservancy (TNC), está no quinto ano de operação e já alcançou um desempenho bem melhor do que o esperado no início, afirma Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do Itaú BBA.
Recentemente, o programa alcançou R$ 2 bilhões em desembolsos para converter 279 mil hectares de áreas degradadas em lavouras. “Em 2021, se olhássemos para hoje e prevíssemos 100 mil hectares, já seria um sonho”, revela Fernandes. A meta do programa é converter 1 milhão de hectares até o fim da década – faltam agora mais cinco anos para alcançar os outros dois terços da meta proposta.
Uma das fazendas atendida pelo programa com melhores resultados é a Reunidas, em Paranatinga (MT), que em dois anos transformou 9 mil hectares de pastos degradados em um sistema de integração lavoura-pecuária (ILP), como reportou a Globo Rural no início do mês. Testes da Embrapa mostram que o solo já alcançou 40% de recuperação.
O “sucesso” do programa até o momento reflete uma combinação entre uma modelagem financeira com prazos alongados – o produtor tem até dez anos para pagar e três anos de carência – e o apoio técnico da Syngenta e da TNC para realizar os melhores investimentos na conversão. Esse modelo permite “ajustar a quantidade e o uso dos recursos ao fluxo de caixa que o empreendimento suporta”, explica.
Desafios
Mas o programa também enfrenta desafios. O maior deles, segundo Fernandes, é a etapa de mensuração, relato e verificação (MRV), conjunto de processos aplicados após a concessão do crédito para garantir que o recurso está sendo utilizado da forma adequada. “A área degradada, por algum motivo, não recebeu investimento antes”, observa o executivo.
Segundo ele, no início o banco teve que definir as regras de acompanhamento conforme as propostas de operações começavam a chegar. Com o tempo, o banco aprimorou a verificação de forma eficiente do ponto de vista de custo e precisão, diz. “Hoje temos tranquilidade com a parte documental”, exemplifica.
Já o desempenho financeiro dos produtores financiados não parece ser uma dor de cabeça para o Itaú. Segundo Fernandes, não houve nenhum caso até agora de inadimplência relacionada a quebras de safra – até porquê, os investimentos para a conversão implicam em tecnificação, o que vem garantindo melhores produtividades. “As situações [de problemas de liquidez dos clientes] que ocorreram foram mais de eventos fora da operação agrícola”, diz.
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Até então, o Programa Reverte vinha financiando apenas a implementação de lavouras de grãos sobre pastos degradados no Brasil, mas recentemente foi aprovada a primeira operação fora do país, no Paraguai, e devem começar agora a sair financiamentos para investimentos em outros tipos de lavouras.
Esses elementos deverão ser debatidos com a comunidade financeira que estará presente nos eventos laterais da COP e deve discutir as soluções levadas pela C.A.S.E. “Dado que é a COP da implementação, buscamos trazer soluções que estão em escala e que servem de inspiração, para ter certeza de que tenha uma mobilização de capital”, diz Fernandes.
O Programa Reverte será apresentado como uma das soluções do setor privado para o eixo de agricultura. Ao longo de uma semana, a C.A.S.E apresentará e debaterá projetos em sete eixos, sendo um eixo por dia. Além do eixo de agricultura, também serão apresentados projetos nos eixos bioeconomia, infraestrutura, finanças, transição energética, transição justa e economia circular.