
Neste mês de outubro, o Brasil começou a colher sua maior safra de canola da história. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2025, a cultura ocupou 211,8 mil hectares, uma área 43% maior do que a de 2024, quando a semeadura ocorreu em 147,9 mil hectares. Quase todas as lavouras (209,9 mil hectares) estão no Rio Grande do Sul, enquanto o restante do plantio ocorreu no Paraná. Para a produção nacional, a Conab estima 309 mil toneladas, um volume 58% superior às 195 mil toneladas do ano passado.
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Embora seja muito usada como óleo comestível e tenha boa demanda no mercado externo, o avanço da cultura no país está ligado a novos investimentos em fábricas de biocombustíveis, que usam o grão como matéria-prima. A adoção de variedades genéticas melhores no campo e o fomento das indústrias ao cultivo, inclusive com o pagamento de seguro agrícola, também ajudam a explicar o aumento da produção da oleaginosa.
Com isso, a cadeia produtiva já começa a acreditar que a área de canola pode chegar a 1 milhão de hectares no futuro próximo no Rio Grande do Sul, ajudando o Estado a efetivar uma segunda safra de grãos no inverno.
Um dos projetos mais recentes é a planta de processamento do grão em São Luiz Gonzaga (RS), a primeira do Brasil a usar exclusivamente canola para a produção de biodiesel. Inaugurada no dia 3 de outubro, a unidade, que nasceu a partir de uma parceria entre as empresas Camera e Celena, tem capacidade para fabricar 230 mil toneladas de biodiesel por ano.
A Celena, que processa o grão desde 2001, foi uma das primeiras empresas a dar apoio ao plantio da canola no Rio Grande do Sul. A fábrica da companhia, que fica em Giruá (RS), tem capacidade para processar 80 mil toneladas anuais do grão, que ela recebe de cerca de mil produtores da região.
Outra companhia que começou a ver a cultura como uma boa oportunidade de negócios é a 3tentos, que investiu entre R$ 20 milhões e R$ 30 milhões para adaptar sua fábrica de biodiesel em Ijuí (RS) para processar canola. A empresa ofereceu sementes e insumos para cerca de 600 produtores em sistema de barter (troca de insumos pela entrega da produção futura), uma iniciativa que ajudou a fomentar 50 mil hectares da cultura.
De acordo com João Marcelo Dumoncel, o principal executivo da 3tentos, a expectativa da empresa é receber em torno de 100 mil toneladas de canola por ano, que se transformarão em 40 mil toneladas de óleo para a fabricação do biodiesel. Mas os planos são de novas ampliações no futuro. “A planta de Ijuí está sendo aumentada para processar 500 milhões de litros de biodiesel por ano. Em 2026, cerca de 10% já vai ser fabricado a partir de canola”, explica.
Para as indústrias, a vantagem da canola em relação a outras culturas é sua concentração de óleo. Dumoncel destaca que, enquanto a soja tem pouco menos de 20% de óleo, a canola tem em torno de 40%. “Ela é muito mais eficiente que a soja”, diz.
A canola surgiu a partir do trabalho de melhoramento genético feito por pesquisadores canadenses, que usaram como base para a hibridização duas espécies de colza. A denominação canola é a abreviação de Canadian Oil Low Acid.
O plantio de canola no Rio Grande do Sul começou nos anos 2000. Apesar de seus diferenciais produtivos, a cultura, que era vista como a “soja de inverno” devido à sua rentabilidade, nunca teve um avanço muito grande.
“A produção ficou muito tempo andando de lado, ocupando um espaço entre 30 mil e 50 mil hectares”, lembra Alencar Rugeri, assistente técnico em culturas da Emater/RS. “Apenas nos últimos quatros anos ela saiu desse patamar e entrou num outro nível, de crescimento constante”.
Segundo a Emater/RS, em 2023, a área de plantio de canola no Rio Grande do Sul passou de 75 mil hectares. No ano seguinte, a área chegou a 150 mil hectares. Já em 2025, a estimativa é que a área passe de 200 mil hectares.
A consolidação da canola como alternativa de plantio de inverno é vista como uma oportunidade para o setor agrícola estadual, que passou por severas perdas nos últimos anos. “Isso ajudaria muito a garantir a renda do produtor do Estado, que não tem grandes opções para uma segunda safra, como é com o milho no Centro-Oeste e no Paraná”, afirma Dumoncel.
Ele observa que a safra de verão no Rio Grande do Sul ocupa em torno de 9 milhões de hectares, entre cultivos de soja, milho e arroz, enquanto as lavouras de inverno não somam nem 1,5 milhão de hectares. “Toda essa área de terra fica hoje em pousio ou vira pastagem”, diz o executivo.