Hipótese está fora dos planos, ao menos pelos próximos dois meses, afirma ABPA Os desdobramentos do primeiro foco de gripe aviária em granja comercial no Brasil ainda não foram suficientes para que as empresas de aves façam ajustes na oferta de produtos. E essa hipótese também está fora dos planos, ao menos pelos próximos dois meses, visto que o setor confia que o caso registrado em Montenegro (RS) deverá ser solucionado antes disso.
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A avaliação é de Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa indústrias como Seara, BRF e Aurora.
“Não houve ajuste na oferta. Seria necessário se houvesse um mercado interno muito ofertado e um [mercado] externo pouco demandante, o que não é o caso”, afirmou o dirigente ao Valor.
Santin acredita que a oferta doméstica de frango não é tão vasta e observa que, lá fora, compradores importantes como Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos suspenderam as importações apenas do Rio Grande do Sul.
China, México e União Europeia, porém, estão entre os importadores que barraram temporariamente as compras de produtos avícolas de todo o país.
Para Santin, faltam fornecedores globais que possam suprir integralmente as lacunas deixadas pelas exportações brasileiras no mercado externo. A Tailândia é uma opção que ainda não registrou gripe aviária em granjas comerciais este ano, mas não há certeza de que o país asiático poderia fornecer a todos os países que deixarem de comprar do Brasil.
“O mundo está demandando e o Brasil tem 39% do market share global [em frango]”, lembrou. “Por isso que não trabalho muito com essa hipótese [de que embargos nacionais durem muito tempo]. O mundo está precisando de comida”, enfatizou.
Enquanto o foco da doença não é encerrado, cargas que estavam no mar quando os embargos foram anunciados estão sendo redirecionadas a outros mercados ou voltando para o Brasil.
Ontem, a pedido da ABPA, o Ministério da Agricultura autorizou a estocagem de cargas em contêineres refrigerados, uma medida emergencial que já foi utilizada em casos como o da Doença de Newcastle, no ano passado, e na greve dos caminhoneiros ocorrida em 2018.
“Se precisar, cada empresa solicita esse recurso, tem que falar com o auditor fiscal de cada planta, e não fere o princípio de segurança dos alimentos. A carga pode ficar por tempo indeterminado no contêiner, o que difere em relação ao armazém é o custo para manter as condições de temperatura”, disse Santin.
As exportações brasileiras de carne de frango estavam em alta este ano, com aumento de 9,5% até abril, segundo a ABPA. Agora, mais de 20 destinos anunciaram algum tipo de restrição ao produto. Questionado sobre o impacto das suspensões, Santin disse que ainda não há estimativa.
Em outra frente, a ABPA pediu ao governo federal que sejam feitos encontros bilaterais na próxima semana, durante a assembleia da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), para avançar na regionalização dos embargos.
(Colaborou Rafael Walendorff, de Brasília)