
Importadores dos Estados Unidos pretendem pedir para o governo Donald Trump a inclusão da carne bovina entre as exceções da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Eles disseram a industriais brasileiros que estão conversando com o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR, na sigla em inglês), e com comissões do Congresso americano.
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As empresas também estão se utilizando da mídia local para explicar a relevância dos negócios com o Brasil ante o baixo ciclo pecuário americano. Mesmo assim, admitem que os “pontos de influência” são reduzidos, pois a decisão final caberá à Casa Branca.
Cortes de carne bovina exportados para os Estados Unidos servem para a fabricação de hambúrguer
Divulgação/Mapa
Os exportadores brasileiros usam a mesma estratégia. A avaliação dos frigoríficos é a de que ainda há espaço para negociar e recuperar o fluxo normal de comércio. Os Estados Unidos são vistos como um “bom cliente” e de difícil substituição, por conta das especificidades dos cortes enviados para lá (recortes magros do dianteiro para fabricação de hambúrgueres) e o preço pago pelo produto.
A carne bovina foi um dos produtos que ficou fora da lista de exceções dos EUA. Somadas às alíquotas atuais, a tarifa chegará a 76,4% e vai inviabilizar novos negócios. Café, cacau, óleos vegetais e animais (como sebo bovino), produtos florestais, pescados e açúcar também serão sobretaxados.
Concorrência
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que, em linhas gerais, “a maior parte das exportações brasileiras (64,1%) segue concorrendo com produtos de outras origens no mercado americano em condições semelhantes”.
A análise foi feita a partir da lista de isenções, para 694 itens, e dos produtos sujeitos a tarifas específicas, aplicadas a todos os países (Seção 232). Neste caso, aplicam-se as tarifas de 25% para autopeças, automóveis e de 50% para aço, alumínio e cobre.
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“A tarifa adicional de 50% anunciada incidirá sobre 35,9% das exportações brasileiras para os Estados Unidos, o que correspondeu a US$ 14,5 bilhões em 2024”, informou a Pasta comandada pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin.
Mais de 37% do valor diretamente afetado pela sobretaxa vem de exportações de produtos do agronegócio, de acordo com dados do MDIC sobre os 30 principais produtos brasileiros exportados para os EUA. Cerca de US$ 5,4 bilhões são de itens agropecuários ou da indústria alimentícia.
US$ 1,9 bilhão de café, chá, mate e especiarias;
US$ 418,8 milhões de preparações de produtos hortícolas, de frutas ou de outras partes de plantas;
US$ 1 bilhão de carnes e miudezas;
US$ 678 milhões de açúcares;
US$ 397,2 milhões de preparações de carne, de peixes ou de crustáceos, de moluscos ou de outros invertebrados aquáticos;
US$ 386,2 milhões de gorduras e óleos animais ou vegetais;
US$ 329 milhões de preparações alimentícias diversas; e
US$ 255 milhões de tabaco.
O governo questiona a decisão da Casa Branca de aplicar a sobretaxa. O próprio USTR admite que os EUA têm superávit na relação com o Brasil. No site do órgão, há um resumo do comércio entre os dois países apontando que a venda de bens americanos ao Brasil alcançou US$ 92 bilhões em 2024 contra importação de US$ 42,3 bilhões. “O superávit comercial de bens dos EUA com o Brasil foi de US$ 7,4 bilhões em 2024, um aumento de 31,9% (US$ 1,8 bilhão) em relação a 2023”, disse o USTR.
Pragmatismo
A exemplo dos exportadores de carne bovina, a indústria de carne suína e de aves também avalia que há espaço para negociar a aplicação das tarifas com o governo americano. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) disse, em nota, esperar uma postura pragmática nas conversas entre as autoridades dos dois países.
Em 2025, o Brasil exportou 14,9 mil toneladas de carne suína, 15,2 mil toneladas de ovos e 6,6 mil toneladas de tilápia para os Estados Unidos. Somadas, as proteínas geraram mais de US$ 90 milhões em receitas de exportação aos empresários brasileiros.
“As relações entre Brasil e Estados Unidos sempre foram pautadas pela diplomacia, em linha com os propósitos de duas nações voltadas para o desenvolvimento e o comércio próspero. Exatamente por isso, os produtores esperam e acreditam no total empenho do governo brasileiro pela continuidade das negociações”, disse a ABPA.