
Importadores americanos têm pressionado o Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) a rever as tarifas impostas a alguns produtos brasileiros. Manifestações anexadas ao processo de investigação aberto pelo órgão contra práticas adotadas pelo Brasil afirmam que o tarifaço vai aumentar custos a empresas e consumidores dos EUA. Por outro lado, produtores locais tentam aproveitar a brecha para intensificar campanhas por mais acesso no mercado brasileiro para a carne suína americana.
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A Vita Coco Company, empresa de bebidas com sede nos EUA listada na Bolsa de Valores de Nova Iorque, Nasdaq, pediu a isenção tarifária para a água de coco do Brasil. A companhia importa o produto há 20 anos e alega que o país não tem clima propício para o cultivo da fruta em escala suficiente para atender à demanda interna.
“A água de coco é um produto natural e perecível, não cultivado ou produzido comercialmente em quantidades suficientes nos Estados Unidos e representa uma situação especial em que a imposição de tarifas não protegeria os produtores americanos, mas, em vez disso, aumentaria os custos tanto para as empresas quanto para os consumidores”, afirma em manifestação ao USTR.
Além do Brasil, a Vita Coco importa água de coco das Filipinas, Indonésia, Sri Lanka, Vietnã, Malásia e Tailândia. “O Brasil, em particular, desempenha um papel fundamental no fornecimento de água de coco de alta qualidade e produzida de forma sustentável para o mercado americano, e está particularmente bem posicionado para exportar para a Costa Leste de forma econômica”, aponta no documento.
Os EUA são o principal mercado importador de água de coco do Brasil. Em 2024, produtores brasileiros enviaram para lá 49,9 mil toneladas, cerca de 95% das 52,7 mil toneladas exportadas no período. O produto é vendido industrializado, já em caixas e enviado aos americanos por empresas majoritariamente do Nordeste, de Estados como Ceará, Bahia, Paraíba e Alagoas.
A companhia americana, com sede em Miami, relata que a aplicação das tarifas de 50% causará inflação do produto ao consumidor e vai reduzir o encarecer o acesso da população americana a opções mais saudáveis de hidratação. A Vita Coco afirma ainda que a medida prejudicará pequenas e médias empresas de alimentos e bebidas, varejistas e empresas de alimentos saudáveis, além de ameaçar os empregos da cadeia. “Esses custos são inevitavelmente repassados aos consumidores americanos”.
“Acreditamos que a exclusão da água de coco dessas tarifas está alinhada à mesma lógica usada nas exclusões para outros produtos tropicais, como suco de laranja, no anúncio tarifário mais recente sobre o Brasil, e é semelhante às discussões sobre café, cacau e óleo de palma relacionadas a outras estruturas comerciais – nenhuma das quais é produzida comercialmente nos Estados Unidos e todas apoiam empresas e consumidores americanos por meio de importações de fornecimento”, completa o documento assinado por Alison Klein, consultor jurídico da empresa.
A investigação foi aberta em 15 de julho e receberá manifestações até 18 de agosto. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) deve apresentar argumentos oficiais do setor produtivo nacional. O governo federal também prometeu uma “defesa robusta” do país.
O processo foi aberto sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 (Trade Act) e abarca diversos temas, como práticas do Brasil que os americanos contestam nas áreas de comércio digital, tarifas preferenciais, proteção da propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol, aplicação de leis anticorrupção e desmatamento ilegal.