
Em uma sinalização para desburocratizar fluxos comerciais com seus parceiros no agronegócio, a China habilitou 183 empresas de café brasileiras para exportação no dia 31 de julho, porém a ação não é garantia de imediato aumento no volume importado pelo país asiático.
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“A China acena para uma possível flexibilização [do comércio], enquanto temos o cenário de 50% de tarifas do governo Trump”, ressalta o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira.
Segundo ele, é preciso cautela, pois um eventual excedente de café no Brasil não vai ser automaticamente direcionado ao mercado chinês. Ao habilitar empresas, a China facilita o comércio, mas ainda há um decreto de 2022 da Administração Geral das Alfândegas da China (GAAC, em inglês) de que os estabelecimentos precisam estar credenciados, explica Ferreira.
“Habilitação e credenciamento sinaliza ação facilitadora de negociações, mas não de compra aumentando diretamente”, observa. “A meu entender, no momento, não se terá um aumento substancial da importação da China.”
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O presidente do Cecafé lembra que o consumo de café na China vive um aumento exponencial, porém o país asiático planeja o crescimento de forma paulatina, e não em picos de consumo. Por esse motivo, não dá para trabalhar com a hipótese de que todo o café que não entre nos Estados Unidos pelo tarifaço, seja direcionado de forma imediata.
Ferreira lembra que os contratos com a China são grandes, mas distribuídos em longo período, como aconteceu com a rede de cafeterias chinesa Luckin Coffee, que acordou comprar 4 milhões de sacas do Brasil sozinha, o equivalente a 240 mil toneladas de café, porém em cinco anos.
Contudo, ele reforça que a habilitação de novas empresas e o trabalho de credenciamento na GAAC vai dar margem futura para o exportador brasileiro avaliar os destinos para seu café.
Setor espera incluir café entre exceções do tarifaço
A dois dias da vigência do tarifaço dos EUA, os exportadores de café acreditam em negociação, apesar da imprevisibilidade do presidente Donald Trump, e esperam a inclusão do produto na lista de exceções, a exemplo do que aconteceu com o suco de laranja. O argumento é o de poupar os consumidores americanos de pagarem mais pela bebida.
“Há de prevalecer o bom senso. Ainda está tudo muito aberto nos debates dos setores que não apareceram na lista de exceção. Nas negociações do café, não jogamos a toalha e estamos ainda mais ativos”, destaca Ferreira.
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O segmento continua apostando no valor agregado do café do Brasil aos Estados Unidos, em detrimento de outras origens, em especial pelos fatores qualidade, quantidade e preço. Ainda que o governo norte-americano sinalize que irá comprar de países como Colômbia e Honduras, o produto brasileiro volta à mesa de negociações, porque passaria a ser procurado por essas mesmas origens.
“Temos consciência da apreciação de café do Brasil pelos Estados Unidos e por outras origens. Além disso, trabalhamos numa cadeia de cooperação mútua. Então, se a Colômbia ou qualquer outro produtor passa a exportar mais para os EUA, essa mesma origem precisará de café do Brasil. Vão se abrir novos espaços para o grão brasileiro na Europa e na América do Sul”, detalhou Ferreira.
Plano B
O segmento segue apostando no valor do café do Brasil aos Estados Unidos, em detrimento de outras origens, em especial pelos fatores qualidade, quantidade e preço. Ainda que o governo norte-americano sinalize que irá comprar de países como Colômbia e Honduras, o produto brasileiro volta à mesa de negociações porque passaria a ser procurado por essas mesmas origens.
Enquanto isso, a entidade continua ativa nas reuniões e no trabalho de pressão de autoridades norte-americanas que possuam algum peso de negociação, disse o presidente.
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Ao ser questionado sobre um plano B, no caso da vigência das tarifas na próxima quarta-feira (6/8), Ferreira não descarta prejuízos de custo de carrego do café e com o trabalho de realocação das cargas para outros destinos, mas aposta que o preço é diferencial de competitividade.
“Dou um exemplo do conilon do Brasil e o robusta do Vietnã, que no momento tem uma sobretaxa de 20%. Hoje, tirando a tarifa do Vietnã, o café de lá custa US$ 600 a mais do que o preço do Brasil por tonelada. Sem a tarifa, é 15% mais caro que o valor do produto brasileiro”, lembra.