Companhia com sede em Vacaria, no Rio Grande do Sul, é conhecida pela produção de maçãs e queijos O grupo RAR, sediado em Vacaria (RS) e conhecido pela produção de maçãs e queijos, está modernizando suas marcas e reorganizando unidades de negócios. A reformulação integra uma estratégia de crescimento da empresa, que pretende atingir uma receita líquida de R$ 1 bilhão até 2034, com expansão média anual de 10%.
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A companhia, que adota agora o nome RAR Agro & Indústria, prevê um aumento de 16% na receita líquida para 2025, atingindo R$ 580 milhões. Em 2024, a empresa alcançou receita de R$ 500 milhões, um crescimento de 6,5% sobre o ano anterior.
“Nos últimos cinco anos, investimos cerca de R$ 60 milhões por ano na operação. Vamos continuar mantendo esse patamar, adequado de acordo com geração de receita da empresa”, informou Angelo Sartor, CEO da companhia.
A RAR foi criada na década de 1970 por Raul Anselmo Randon, fundador das Empresas Randon, do segmento de transportes. Pioneira na produção de maçãs no Rio Grande do Sul, a companhia depois expandiu os negócios para produção de queijos, vinhos, azeite e venda de produtos importados, como presuntos, salames, acetos balsâmicos, azeites e vinhos.
No entanto, essa ligação com o grupo Randon também fazia com a marca RAR fosse menos conhecida ou então associada com o setor metalmecânico. Essa foi uma motiva para a renovação da identidade visual e posicionamento das unidades de negócio da empresa, buscando fortalecer sua associação com o agronegócio e alimentos premium.
Os braços do grupo foram divididos em Rasip Agro, que concentra a produção agrícola, como maçãs, uvas, grãos, leite e azeitonas; e a RAR Gastronomia, que reúne os lácteos, charcutaria, azeites, vinagres, acetos e vinhos.
“A ideia é que essa mudança seja uma virada de chave, para nos aproximarmos do universo da gastronomia, e que consumidor nos veja como marca de alimentos com valor agregado”, afirma Sergio Martins Barbosa, presidente-executivo da RAR.
Seleção de maçãs na unidade da Rasip Agro em Vacaria (RS)
Carlos Eduardo Bado/Divulgação
Mais maçãs
Do faturamento do grupo, cerca de 45% é proveniente da produção de maçãs. Atualmente, a Rasip Agro possui 1350 hectares de macieiras, com plano de expansão para 1500. “O plantio de apenas um hectare a mais demanda um investimento de R$ 250 mil”, afirma Barbosa.
Na última safra, fatores climáticos como a falta de frio no inverno, que prejudica o desenvolvimento da macieira, fez com que a safra da Rasip caísse para 45 mil toneladas, enquanto a média de produção fica entre 55 mil e 60 mil. No entanto, a empresa tem planos de alcançar uma produção de até 75 mil a 80 mil toneladas nos próximos anos.
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Uma das soluções para esse aumento é a aposta em uma nova variedade de maçã, a Belgala, que é resistente à glomerela, uma doença fúngica. “Hoje temos 100 hectares plantados com Belgala, que produziram 400 toneladas dessa variedade. Nossa intenção é, agora, aumentar para 500 hectares”, destaca Sartor.
A Belgala está sendo comercializada pela RAR em marca própria, juntando-se às outras quatro do grupo: Avalon, Sunny, Brazilian Choice e Rasip Kids.
Com 8% do mercado nacional de maçãs, a RAR acredita a produção brasileira, que foi de 700 mil toneladas nesta safra, tem condições de retornar para patamares de 1 milhão de toneladas da fruta. “O setor enfrentou muitos problemas climáticos nos últimos anos, tivemos secas, excesso de chuvas, mas há condições de recuperação”, destaca Celson Zancan, diretor de Fruticultura na Rasip Alimentos.
Maçã da variedade Belgala da Rasip Agro
Carlos Eduardo Bado/Divulgação
Outro desafio é incentivar o aumento a demanda pela fruta no Brasil. Zancan destaca que, enquanto o consumo no Brasil é de cinco quilos per capita por ano, na Europa o índice é de 14 quilos e, na China, de quase 30 quilos. Atualmente, mais de 80% da produção das frutas da RAR é destinada para o mercado brasileiro, mas a empresa quer aumentar a participação das exportações em sua receita.
Para armazenar a produção de maçãs, a Rasip conta com 84 câmaras frias, com capacidade de 50 mil toneladas de estocagem. Toda a colheita, que geralmente começa em fevereiro, é realizada em até 90 dias, de forma manual, por cerca 3 mil safristas temporários.
Gran Formaggio
Um dos produtos mais reconhecidos da RAR é o queijo Gran Formaggio. A fábrica, montada nos anos 1990, foi a primeira a produzir queijo tipo Grana Padano fora da Itália. Conhecido como um produto de qualidade superior, ele leva 12 a 18 meses de maturação, e é produzido a parte de leite não pasteurizado de vacas holandesas, alimentadas por silagem especial para não afetar o sabor do produto.
“Para produzir uma forma de 40 quilos do queijo, são necessários 500 litros de leite”, explica o mestre queijeiro Jiovani Foiatto, gerente de produção. Em sua câmara de maturação, a RAR tem capacidade para 17 mil formas do Gran Formaggio.
A produção do queijo é mantida por um rebanho de 1.400 vacas leiteiras, que produzem entre 45 a 50 mil litros de leite por dia e são criadas em uma única propriedade pertencente ao grupo. Com isso, a empresa é maior produtora individual de leite do Rio Grande do Sul, e está em 13º lugar no ranking brasileiro.
Gran Formaggio foi o primeiro queijo tipo Grana Padano produzido fora da Itália
Carlos Eduardo Bado/Divulgação
Franquias
Além dos produtos próprios, a RAR também trabalha com linhas de importados, como presuntos, salames, acetos balsâmicos, azeites e vinhos. Uma forma encontrada para comercializar esses itens é sua loja própria, a Spaccio RAR.
Desde 2019, a empresa vem abrindo franquias de pontos de comercialização com essa marca. Atualmente, além da unidade em Vacaria, já existem lojas franqueadas em Gramado (RS), Canela (RS), Curitiba (PR) e São José dos Campos (SP). “Nosso objetivo é alcançar entre 20 a 50 lojas em vários lugares do Brasil”, afirma Sartor.
Segundo o executivo, as franquias hoje são responsáveis por 25% das vendas da divisão RAR Gastronomia. Para abrir uma loja, segundo Sartor, é necessário um investimento de cerca de R$ 1,5 milhão, com retorno em cerca de 36 meses.
Azeite e grãos
Os fatores climáticos não têm afetado apenas a produção de maçãs da RAR. No último ano, não foi produzido nem mesmo um litro de azeite de seus 24 hectares de oliveiras, que começaram a ser implantados em 2013. “Nosso clima não tem sido benéfico para essa produção, com muita umidade e com ocorrência de frio fora de época”, destaca Barbosa.
Além do azeite produzido no olival próprio, que é engarrafado por parceiros, a RAR também importa óleo de oliva extravirgem de um fabricante do Chile, que entrega o produto com a marca da empresa brasileira. Com essa garantia de fornecimento, o grupo gaúcho está, aos poucos, descontinuando a produção de azeite próprio. Algumas oliveiras foram até já vendidas para uso como árvores ornamentais.
Já na produção de grãos, a Rasip Agro conta com 8 mil hectares de lavouras, usadas para soja, milho e trigo. Como a região de Vacaria não sofreu muito com a seca de verão que atingiu outras áreas do Rio Grande do Sul, a colheita deste ano teve um resultado positivo, recuperando prejuízos sofridos na última temporada, quando as chuvas que causaram as enchentes de 2024 geraram perdas entre 30% a 40% nas lavouras. Agora, a produtividade registrada foi de 55 a 60 sacas por hectare na soja e de 150 a 160 sacas por hectare no milho.
*O jornalista viajou a convite da RAR Agro & Indústria