
Com investimento de R$ 80 milhões desde 2023, o Grupo Cazanga, de mineração de calcário, decidiu ampliar sua atuação no agronegócio com a criação da BioCAZ, empresa dedicada à produção de bioinsumos agrícolas. A nova operação marca a entrada estruturada do grupo no mercado de defensivos biológicos e inoculantes, segmento que vem ganhando espaço no campo brasileiro.
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A BioCAZ nasce a partir da experiência dos irmãos Bruno e Bernardo Melgaço Vaz, produtores rurais em Minas Gerais e Mato Grosso, focados em soja, milho e pecuária, e representantes da segunda geração do grupo fundado em 1978. Segundo os executivos, o projeto foi concebido entre o fim de 2022 e 2023, com apoio de consultorias especializadas, e está em fase de implantação industrial.
As duas fábricas da BioCAZ estão sendo construídas em Arcos (MG). Uma delas será dedicada à multiplicação de microrganismos à base de bactérias, com capacidade instalada de 1 milhão de litros para inoculantes e outros 1 milhão de litros para defensivos biológicos, com previsão para ser inaugurada em janeiro.
A segunda unidade será voltada à produção de fungos, com capacidade de 200 toneladas, e expectativa de inauguração em março. “A gente está pensando em dois momentos: um momento de start, com essa capacidade instalada, e depois a validação e o escalonamento das teses”, explicou Bernardo.
A expectativa do grupo é alcançar um faturamento bruto acumulado de cerca de R$ 400 milhões nos próximos cinco anos. Para o primeiro ano de operação, a projeção é de receita em torno de R$ 20 milhões, com crescimento gradual até aproximadamente R$ 150 milhões no quinto ano. “Esse primeiro ano é um ano desafiador, em que a gente vai precisar conseguir alocar as vendas para ganhar escala. Esse talvez seja o nosso maior desafio”, afirmou Bernardo.
O foco inicial de atuação será o mercado B2B, com maior concentração em Minas Gerais e Mato Grosso. “A gente fez uma fábrica maior e está fazendo as projeções com máximo conservadorismo, apesar de entender que o mercado está crescendo e que existe uma possibilidade grande de aumento da adoção por parte do agricultor”, disse Bernardo, acrescentando que a entrada de grandes players no segmento de biológicos é vista como um indicativo de atratividade do mercado.
De acordo com Márcio Oshiro, diretor-executivo da BioCAZ, além do investimento em capital fixo, o projeto prevê uma estrutura operacional relevante. “A parte de Opex [despesa operacional] deve girar em 2026 entre R$ 20 milhões e R$ 22 milhões, além dos R$ 80 milhões de CapEx [despesas de capital]”, afirma. Do total investido, cerca de 50% vêm de financiamentos com órgãos de fomento à inovação e os outros 50% de recursos próprios do grupo.
Márcio Oshiro, diretor-executivo da BioCAZ
Divulgação
O portfólio da BioCAZ será composto por produtos de biotecnologia desenvolvidos a partir de bactérias e fungos, voltados ao controle de pragas e doenças como cigarrinhas, mofo-branco e nematoides, além de soluções para incremento de produtividade. As aplicações incluem culturas como soja, milho, cana-de-açúcar, café, algodão e feijão. A empresa atenderá produtores rurais, revendas, cooperativas e também outras indústrias do setor.
Atualmente, sete produtos estão em desenvolvimento e devem compor o pipeline da companhia ao longo dos próximos cinco anos, incluindo dois inoculantes à base de bactérias e três produtos formulados com fungos. Parte dessas soluções ainda passará por testes de campo e processos regulatórios antes de chegar ao mercado.
A BioCAZ já firmou parcerias com instituições de pesquisa e empresas do setor, como Embrapa Agrobiologia, USP/Esalq, Instituto Biológico, além de startups e organizações privadas ligadas à inovação em biológicos. Segundo a empresa, há também produtos em desenvolvimento voltados à mitigação de estresses climáticos, como déficit hídrico, e à melhoria da solubilização de nutrientes.
Apesar de um cenário mais cauteloso para crédito no setor, os controladores afirmam que o planejamento do projeto é de longo prazo. “Não deixa de ser um ano com cautela com crédito, mas o agricultor continua plantando e continua precisando tratar a lavoura”, disse Bruno.
Já Bernardo reforça a visão estratégica: “Eu não penso no agora, eu penso no que esse negócio vai ser daqui a 5, 10 anos. Esse tem sido o nosso pensamento, de longo prazo mesmo”.





