
A safra recorde de grãos impulsionou o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário no segundo trimestre deste ano. O indicador subiu 10,1% em relação ao mesmo período de 2024, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta terça-feira (2/9).
Leia também
Após tarifaço, preços do café e carne bovina recuam no varejo
Possível compra de soja dos EUA pela China pode afetar prêmio no Brasil
Brasil assina acordo de cooperação agrícola com o México
Na comparação com o trimestre anterior, houve leve queda de 0,1%. O economista André Perfeito avalia que este resultado “significa estabilidade num patamar elevado”, uma vez que a agropecuária havia subido 12,3% no primeiro trimestre.
Com o avanço de 10,1% na variação anual, o setor contribuiu para a alta de 2,2% registrada no PIB geral do segundo trimestre. “A produção de soja foi um dos motores do crescimento. Milho segunda safra também contribuiu, com colheita robusta em junho e julho”, diz Carlos Cogo, diretor da consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio.
Com base em dados do último Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE), divulgado em agosto, o IBGE ressaltou em comunicado hoje que o aumento na produção de alguns cultivos agrícolas foi fundamental para os resultados do PIB agro.
“Safras significativas no segundo trimestre com crescimento na estimativa de produção anual e ganho de produtividade (são): milho (19,9%), soja (14,2%), arroz (17,7%), algodão (7,1%) e café (0,8%)”, destaca o IBGE.
Saiba-mais taboola
O ritmo forte nas exportações, sobretudo, de soja, milho e carnes também favoreceu a agropecuária como um todo. “Carne suína e de frango tiveram melhor desempenho, sustentadas pelo mercado interno e exportações”, avalia o diretor da Cogo.
O segmento de carne bovina vai bem, mas sente efeitos do início do ciclo de retenção de fêmeas, o que reduz o volume de abates de gado.
Olhando para frente, Cogo acredita que ainda haverá reflexos positivos da segunda safra de milho no PIB do terceiro trimestre, do maior esmagamento de soja para atender a mistura de 15% do biodiesel ao diesel (B15) e do avanço dos preços do boi gordo. “Café com valores sustentados e subindo novamente”, acrescenta.
Pressão inflacionária
Para a Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o forte crescimento do agronegócio deve sustentar quase metade da expansão do PIB brasileiro em 2025, mas essa aceleração acende um sinal de alerta para o risco de pressão inflacionária.
“O PIB do agro já havia crescido mais de 10% no primeiro trimestre e voltou a crescer 10% no segundo, na comparação anual. Deve fechar o ano com alta próxima a 10%”, afirmou Vale, destacando o peso do setor no desempenho da economia nacional. Ele falou com a imprensa durante o congresso da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), realizado nesta terça-feira (2/9), em São Paulo.
Apesar do avanço expressivo, o economista ponderou que esse ritmo acelerado pode ter efeitos indesejados. “Crescer dessa forma e nessa magnitude tem suas consequências. A principal delas é o processo inflacionário que estamos vivendo nos últimos anos”, disse.
Segundo ele, a agropecuária é hoje o segmento com maior intensidade de crescimento, cenário que deve se repetir em 2026. O protagonismo do setor ocorre em um contexto de desaquecimento de outras áreas da economia, como indústria e serviços, o que reforça a importância e os riscos de uma alta concentrada em um único motor de crescimento.