O clima favorável às lavouras nos EUA também adicionou pressão aos mercados futuros As cotações de soja, milho e trigo encerraram o pregão desta segunda-feira (8/7) em queda na Bolsa de Chicago, refletindo a crescente incerteza no cenário geopolítico e o endurecimento da retórica do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que voltou a defender sanções comerciais unilaterais. O clima favorável às lavouras nos EUA também adicionou pressão aos mercados futuros.
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Os contratos futuros de milho com entrega para setembro recuaram 1,36%, encerrando o dia a US$ 3,9800 por bushel, a maior desvalorização do dia. A commodity seguiu pressionada pela decisão do governo Trump de aplicar tarifas de 25% a importantes parceiros comerciais, como Japão e Coreia do Sul, a partir de 1º de agosto. A medida, comunicada em tom definitivo por Trump em sua conta no Truth Social, aumentou a incerteza dos operadores e pode afetar significativamente a demanda internacional.
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O bom desempenho das lavouras norte-americanas também contribui para o viés de baixa, com previsões de chuvas no cinturão produtor reforçando a expectativa de uma colheita robusta no segundo semestre.
Soja
A soja para agosto caiu 0,99%, com os papéis cotados a US$ 10,2125 por bushel, pressionada principalmente pela ausência da China nas compras da safra 2025/2026 dos EUA. Segundo o analista Carlos Cogo, o mercado de soja deve seguir monitorando as sinalizações de tarifas do governo dos EUA e a ausência da China nas compras, em uma semana considerada decisiva para a diplomacia comercial.
“Se a China voltar às compras nos EUA, parte das perdas será revertida. Mas por enquanto a China está afastada da soja americana. A China não apareceu entre os destinos da soja exportada pelos EUA na semana encerrada em 3 de julho, segundo dados do USDA”, aponta Cogo.
Além disso, o anúncio de que países alinhados ao Brics poderão pagar tarifa adicional de 10% aumentou a cautela no mercado físico, na avaliação de Cogo.
Já para Rafael Silveira, analista da Safras & Mercado, a China ainda depende significativamente da soja americana e, ao menos no médio prazo, as importações são viáveis devido ao acordo de tarifas reduzidas de até 90 dias.
No entanto, “caso o presidente Trump anuncie uma nova rodada de tarifas mais agressivas — como já sinalizou — é possível que a China responda com retaliações, o que elevaria o custo de importação da soja americana justamente no momento de entrada da nova safra [americana]”, pontua Silveira.
“Isso tem implicações relevantes: com uma demanda chinesa mais fraca por soja americana, poderíamos ver uma redução no ritmo de exportação no fim do segundo semestre. Nesse cenário, os estoques finais nos EUA poderiam ser reavaliados para cima, mesmo em um contexto de oferta apertada. Se a produtividade das lavouras não for comprometida, esse estoque mais folgado tende a ser interpretado como fator de baixa para a Bolsa de Chicago”, acrescenta.
No cenário brasileiro, eventuais restrições à soja dos Estados Unidos podem abrir mais espaço para o produto nacional no mercado internacional, favorecendo as exportações e sustentando os prêmios até o fim do ano. No entanto, caso a demanda externa não cresça no ritmo esperado, há risco de queda nos prêmios de exportação, especialmente a partir de outubro, quando a soja americana passa a competir com mais força no mercado global, conclui.
Trigo
O trigo encerrou em leve baixa, de 0,14%, e contratos para setembro negociados a US$ 5,4775 por bushel. Além das incertezas comerciais entre a Casa Branca e os compradores internacionais, a pressão veio do avanço da colheita de trigo de inverno nos EUA e em outras regiões produtoras, como a União Europeia e a área do Mar Negro.