Fintechs agro crescem acima da média e tornam-se principais candidatas a a alcançar US$ 1 bilhão em valor de mercado O universo de startups financeiras voltadas ao agronegócio está em franca expensão no país, acompanhando as perspectivas de crescimento da agropecuária nacional. No ano passado, havia 97 empresas do segmento em operação no Brasil, o que representou um aumento de 14,1% em relação a 2023, segundo os dados da quinta edição do levantamento Radar Agtech, que acompanha a evolução das startups do agro desde 2019.
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“Vivemos uma combinação perfeita composta por demanda de mercado e inovação regulatória, que cria novas oportunidades de negócio”, avalia Francisco Jardim, sócio da gestora SP Ventures. Segundo ele, esse cenário vem se desenhando nos últimos quatro anos com o surgimento de novas ferramentas de financiamento do setor agropecuário.
Dentre os exemplos, ele cita a criação dos Fiagros e a digitalização dos certificados de produto rural, e por consequência dos certificados de recebíveis do agronegócio, popularizados pelas siglas CPR e CRA. “Tudo isso tem deixado o setor mais competitivo, o que permite ao mercado de capitais entrar para substituir e competir diretamente com os bancos no financiamento”, pontua o executivo.
Embrapa, SP Ventures e a Homo Ludens Inovação e Conhecimento realizam o levantamento em parceria. Na edição mais recente do estudo, a categoria Crédito, Permuta, Seguro, Créditos de Carbono e Análise Fiduciária foi a que mais cresceu entre as agtechs situadas “antes da porteira”. Nos últimos seis anos, a participação desse grupo no universo de agtechs passou de 14,7% para 26,5%, evidenciando seu potencial dentro do agronegócio.
A avaliação dos autores do levantamento é de que o primeiro unicórnio do agronegócio, nome dado a startups que atingem valor de mercado de pelo menos US$ 1 bilhão, surja no segmento financeiro, replicando casos notórios que já ocorreram fora do agro. “Existem dois setores que terão um unicórnio do agro muito em breve: um é fintech e o outro é biológicos. Mas, no setor financeiro, eu acho que isso já está muito bem encaminhado”, comenta Jardim.
O coordenador do estudo, Luiz Ojima Sakuda, diz que um dos fatores que contribuem para a expansão das agfintechs nos últimos seis anos é a digitalização do agronegócio e o avanço da cobertura de internet no campo. “O Brasil é conhecido por ter um setor financeiro bastante sofisticado e de excelência. Agora, essa excelência está entrando com mais força nas especificidades do agro”, afirma ele.
O primeiro unicórnio do agronegócio, nome dado a startups que atingem valor de mercado de pelo menos US$ 1 bilhão, deve surgir no segmento financeiro
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De acordo com dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), 74%dos domicílios rurais tinham acesso à internet no ano passado. A fatia é bem superior aos 22% que apareceram nesse mesmo levantamento em 2015 e está bem mais próxima dos 85% da área urbana. “Lógico que ainda existe uma diferença em relação à cidade, mas ela não é mais tão grande quanto já foi. E isso, obviamente, faz parte da infraestrutura necessária para que esse tipo de negócio caminhe”, conclui Sakuda.
Vivemos uma combinação perfeita, composta por demanda de mercado e inovação regulatória, que cria novas oportunidades de negócio
Nesse sentido, Jardim, da SP Ventures, avalia que as startups financeiras do agro, as agfintechs, são estratégicas para o desenvolvimento do agronegócio nos próximos anos. “Depois de dois anos desafiadores, o ciclo do agro está melhorando bastante. A maior dificuldade do produto está nas despesas financeiras”, observa o executivo.
Com as taxas de juros em alta, a avaliação dos pesquisadores é de que o atual cenário é favorável para as agfintechs que já estão no mercado, mas desafiador para as que estão em início de operações. Como exemplo, Jardim cita os anos de 2020 e 2021, quando o Brasil viveu uma “explosão” de fintechs.
“Eu acho que existem oportunidades para inovar e para criar uma fintech espetacular, mas não as mesmas de 2021, 2022 ou 2023. Tem menos dinheiro, menos abertura regulatória, e tem um mercado mais duro. Isso privilegia quem já entrou”, analisa Jardim.
O Brasil é conhecido por ter um setor financeiro sofisticado e de excelência. Agora, essa excelência está entrando com mais força no agro
Segundo Aurélio Vinicius Borsato, pesquisador da Embrapa e integrante da equipe técnica do estudo, apenas 5% dos investimentos em startups na América Latina estão relacionados ao agronegócio, o que seria um indicativo do potencial de crescimento do segmento. “Temos uma grande oportunidade para aumentar os investimentos no agro no Brasil. Talvez as agfintechs passem muito por isso porque elas conseguem atuar de forma específica, levando soluções muito adequadas para o que o produtor precisa”, avalia Borsato.