
Crescimento acontece na esteira da adoção de práticas de agricultura regenerativa e de avanços regulatórios A fabricação e venda de fertilizantes especiais e de baixo carbono deve acelerar internacionalmente, mas em particular no Brasil. O movimento já está acontecendo e pode se consolidar para os próximos 25 anos. A avaliação é da consultoria inglesa Argus.
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Fatores externos, como a valorização do dólar, explicam, em parte, esse crescimento. Com o encarecimento dos fertilizantes commodities, produtores brasileiros têm optado pelos premium, que prometem valor agregado à produtividade, permitem ganhos por meio de prêmios de sustentabilidade e ajudam a reduzir a dependência de importação de matérias-primas.
Exigências de mercados compradores por comprovação de práticas sustentáveis e preservação ambiental, como a União Europeia e o Reino Unido, também estimulam o comércio de especialidades, enfatizou a gerente de negócios de fertilizantes da Argus, Thaís Souza, em evento que a empresa organizou, nesta terça-feira (10/6), em São Paulo.
A visão é a de que as negociações dos fertilizantes tradicionais tendem a desacelerar até 2050. A gerente também falou que, no Brasil, o crescimento acontece na esteira da adoção de práticas de agricultura regenerativa e de avanços regulatórios, como a Política Nacional de Fertilizantes (PNF), os créditos de descarbonização (CBios) e, no plano internacional, a entrada em vigor do regulamento europeu EUDR, que impõe critérios rígidos sobre desmatamento e rastreabilidade.
O desafio central, acrescenta ela, é reduzir a pegada de carbono dos insumos agrícolas. “Com maior eficiência no uso de nutrientes e menor impacto ambiental, os fertilizantes especiais são hoje uma das principais apostas para equilibrar produtividade, sustentabilidade e competitividade no campo”, reiterou Souza.
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Esse movimento estimula empresas a investir, ampliando capacidade ou abrindo novas plantas, observou Roberto Levrero, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo). Recentemente, a entidade fez um levantamento com as 140 associadas e constatou que elas investem entre 2% e 2,5% do faturamento na área de pesquisa e desenvolvimento.
A Abisolo está otimista. Para Levrero, os dados sinalizam o interesse das fabricantes e distribuidoras em ampliar a participação no mercado de especialidades, segmento plural por contemplar produtos à base de minerais, substâncias húmicas, além de biofertilizantes, foliares, orgânicos, que se enquadram como insumos de baixo carbono.
O impulso da biomassa
O Brasil tem uma vantagem adicional para impulsionar o mercado de fertilizantes sustentáveis: a produção de biomassa. Por originar bioprodutos, o país chama a atenção do mercado europeu, que estaria disposto a pagar mais por insumos com menor pegada ambiental.
“Por serem produtos que surgem de energia renovável, estão em sintonia com a potencial adoção de fertilizantes especiais”, reiterou Souza.
Ela explicou que esse tipo de fertilizante provém de uso sustentável de energia, por isso já contempla o sequestro de carbono. Apesar de fazer parte de um grupo de insumos “premium”, auxiliam no ganho de produtividade sem aumentar a área cultivada. Assim, o Brasil, que importa 85% dos adubos à base de nitrogênio, fósforo e potássio, se beneficia de insumos fabricados no próprio país ou de fórmulas mais complexas, precificadas com outras variáveis que não apenas o dólar.
Para a gerente de negócios, essa é uma oportunidade de mais produtores investirem no segmento, acompanhando um movimento da indústria em produzir localmente. Um desafio, acrescenta ela, é a falta de consciência sobre a viabilidade econômica desse mercado, junto com o debate da regulamentação e do preço das especialidades.
Indústrias miram fertilizantes sustentáveis
De acordo com Roberto Levrero, o Brasil conta hoje com 872 empresas que produzem ou importam fertilizantes. Destas, 718 trabalham com produtos minerais, mas muitas têm alterado seu perfil para incorporar soluções mais sustentáveis, especialmente as de base orgânica e os biofertilizantes — categorias já regulamentadas no país.
A expectativa é de que os chamados fertilizantes especiais e biológicos ganhem cada vez mais espaço, impulsionados tanto pela indústria quanto pela demanda dos produtores rurais, considerou Levrero.