Para a produtora Mariele Stockler, a pecuária leiteira “é como uma engrenagem”, em que todas as etapas da produção têm que funcionar bem para se obter os melhores resultados. Proprietária do sítio São Sebastião, localizado em Castro (PR), na região dos Campos Gerais, ela coleciona premiações devido à qualidade do leite produzido no local. E remete a eficiência que a propriedade vem atingindo há anos à atenção e cuidado no processo: “são vários fatores que contribuem para chegarmos nesse patamar”.
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A propriedade tem perfil familiar: Mariele está à frente dos negócios junto com o irmão e a irmã e tem o acompanhamento dos pais, que iniciaram a atividade em 1986, mas já estão deixando a administração para os filhos. Referência na região, eles recebem grupos de visitantes interessados em conhecer a fórmula do sucesso durante o ano todo.
O prêmio mais recente foi recebido em agosto, um reconhecimento da Associação Paranaense de Criadores da Raça Holandesa (APCBRH) ao melhor desempenho quanto ao índice de vacas em transição (TCI, do inglês Transition Cow Index). O índice monitora a saúde e o desempenho das vacas recém-paridas e do rebanho leiteiro. “O prêmio se refere à sanidade das vacas no período de transição, o que mostra que o manejo e o cuidado que eles adotam vai além da qualidade do leite”, avalia o veterinário Gilberto Foltran, consultor da Elanco Saúde Animal que acompanha a propriedade.
O rebanho é composto por 420 animais, com predominância da raça holandesa. Dessas, são 165 vacas em lactação, com produção diária de 6.500 litros de leite.
Outro indicador que revela a eficiência e a qualidade da produção da fazenda é a contagem de células somáticas (CCS) de 60.000 células/mL – a CCS abaixo de 100.000 células/mL é considerada excelente e indica que o rebanho está muito saudável. E também a contagem padrão em placas (CPP) abaixo de 1.000 UFC/mL. A CPP é uma medida microbiológica que mostra a quantidade total de bactérias viáveis presentes no leite cru. Valores abaixo de 10.000 UFC/mL apontam um excelente nível de higiene na produção do leite.
O rebanho é de 420 animais, a maioria da raça holandesa; são 165 vacas em lactação, com produção diária de 6.500 litros de leite
Carolina Mainardes/Globo Rural
Manejo
O amor pelas vacas se reflete no cuidado e no acompanhamento do desenvolvimento de cada animal, que tem nome e personalidade próprios. “Todo ano ganhamos prêmio de qualidade, mas a gente trabalha duro para manter os resultados”, ressalta Mariele.
Para ela, a ordenha é um dos pontos principais, “só que o leite que sai dali vem de outros fatores também”, aponta. A produtora elenca para o bom manejo no processo de ordenha a limpeza adequada do ambiente e dos equipamentos, secagem dos tetos das vacas e resfriamento eficiente – aspectos fundamentais para evitar contaminação e assegurar a qualidade do produto final.
Gilberto explica que, na pecuária leiteira, um bom manejo é voltado a otimizar a produção de leite, garantir o bem-estar dos animais e a qualidade da produção, abrangendo desde a nutrição e sanidade até as técnicas reprodutivas e a ordenha. O trabalho também envolve o conhecimento do comportamento e fisiologia dos bovinos a fim de possibilitar um ambiente ideal de produção, contribuindo para o aumento da eficiência e da rentabilidade da atividade.
Para Mariele, a dieta balanceada, com silagem produzida na própria fazenda, e o bem-estar animal são fatores de grande relevância no processo. O sistema de criação do rebanho é o free stall e o confinamento tem início com as bezerras, que só vão para o campo após o desmame. “A bezerra de hoje é nossa vaca de amanhã”, salienta.
Ela conta que os cuidados têm início antes mesmo do animal nascer, durante o pré-parto da vaca. Conforme a produtora, é priorizado o parto natural, sem interferência humana – com exceção para casos excepcionais e de gestações gemelares: “desde que começamos a melhorar os cuidados com as bezerras, os resultados são visíveis e temos vacas de primeiro parto mais produtivas e com produção de colostro de qualidade”.
Dieta balanceada e o bem-estar animal são fatores de grande relevância na propriedade
Carolina Mainardes/Globo Rural
O sistema free stall foi adotado em 2017, inicialmente para as vacas em lactação. Mais recentemente, as vacas secas e em pré-parto também foram incluídas nos barracões. “Dando esse conforto, percebemos que elas estão respondendo bem logo no pós-parto, com menos problemas como mastites e infecções. Assim, não precisamos gastar com remédio e a vaca já começa a produzir muito leite”, relata a produtora. Ela chama a atenção para os cuidados no confinamento, indicando a limpeza das camas e mantendo alimentação e água à disposição dos animais.
Outro diferencial é o controle efetivo da mastite. Além de manter os níveis de CCS baixos e realizar o controle leiteiro mensal, a propriedade adota ações para identificação da doença durante o processo de ordenha, com separação do animal e início imediato do tratamento. “Tomamos medidas de prevenção à mastite, mantendo todo cuidado na ordenha e na higiene. Mas, quando ocorre um caso da doença, o leite dessa vaca não vai para o tanque até que ela seja curada”, explica Mariele.
A visita à propriedade aconteceu durante o Agroleite, evento realizado pela Cooperativa Castrolanda entre os dias 5 a 8 de agosto, em Castro. A feira destaca as tecnologias adotadas por produtores que são referência na produção de leite na região, uma das principais bacias leiteiras do país.
*A jornalista viajou a convite da Elanco Saúde Animal