Exportações de calçados do Ceará para os EUA despencam 49,20% após tarifaço de Trump

As exportações de calçados do Ceará para os Estados Unidos registraram uma queda brusca de 49,20% em agosto de 2025, em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Segundo dados da plataforma Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o número de pares enviados caiu de 4.417.721 para apenas 2.243.785. O recuo expressivo é atribuído à imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros, determinada pelo presidente Donald Trump.

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A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) classificou o impacto como os primeiros reflexos concretos do chamado “tarifaço”, que passou a valer no segundo semestre de 2025. No cenário nacional, a queda foi de 17,6%, o que mostra que o Ceará, segundo maior polo calçadista do país, foi um dos estados mais afetados pela medida protecionista dos EUA.

A comparação entre os meses de julho e agosto também reforça a gravidade da situação: o volume de exportações cearenses para os EUA caiu 41,82% de um mês para o outro. A indústria local, que depende fortemente das exportações para manter seus níveis de produção e emprego, agora lida com a redução da competitividade frente a concorrentes asiáticos e latino-americanos, que não foram atingidos pela mesma tarifa.

De acordo com Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, o impacto não se restringe aos exportadores. Importadores de insumos como espumas e borrachas também sentem os efeitos negativos. Muitas empresas cearenses que atuam como “bandeiras brancas”, produzindo calçados para marcas internacionais como Nike e Adidas, enfrentam dificuldades em manter os contratos devido ao aumento dos custos e à perda de atratividade do mercado americano.

Na tentativa de manter as relações comerciais com os EUA, metade das empresas impactadas relatou à Abicalçados estar concedendo descontos médios de 15% sobre os produtos exportados. No entanto, a estratégia de absorver parte dos custos das tarifas adicionais não foi suficiente para conter o declínio nas vendas. A balança comercial do setor continua apresentando saldo negativo, e os contratos seguem sendo rescindidos.

A expectativa da Abicalçados é de que os números de setembro sejam ainda piores. Isso porque a partir deste mês não há mais a possibilidade de envio de cargas sob contratos antigos, anteriores à nova tarifa. Além disso, muitos pedidos foram cancelados, e há registros de negociações suspensas ou interrompidas. Segundo levantamento da entidade, 73% das empresas impactadas já relatam queda no faturamento, enquanto 60% enfrentam cancelamento de pedidos e paralisação das negociações.

Em resposta à crise, o Governo Federal incluiu o setor calçadista no Plano Brasil Soberano, que prevê até R$ 30 bilhões em crédito para exportadores afetados, prorrogação do regime de drawback e diferimento de tributos federais. No âmbito estadual, o Governo do Ceará também lançou um programa de apoio, com chamada pública encerrada em 5 de setembro. No entanto, ainda não há informações sobre o número de empresas atendidas ou os recursos efetivamente liberados.

Com o cenário ainda incerto, as empresas do setor calçadista no Ceará buscam alternativas para diversificar os destinos de exportação e reduzir a dependência do mercado americano. Enquanto isso, sindicatos e associações acompanham com atenção os desdobramentos políticos e econômicos das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, temendo que novas medidas protecionistas agravem ainda mais a crise no setor.

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