
O mercado de grãos básicos consumidos no Brasil vive um momento de contrastes. Se no arroz o excesso de oferta mantém os preços em queda e desanima os produtores a ampliar o plantio, no feijão há duas realidades distintas: firmeza para o carioca, diante de uma oferta seletiva, e forte pressão para o feijão-preto, em meio a excedentes.
De acordo com a consultoria Safras & Mercado, as cotações do arroz gaúcho recuaram quase 43% em relação ao ano passado. Exportações entre março e agosto cresceram 19,6%, mas não foram suficientes para absorver a safra cheia. O preço da saca de 50 quilos, que chegou a R$ 84 nos portos, hoje gira em torno de R$ 70 a R$ 71.
O quadro já começa a impactar as intenções de plantio. Segundo o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), a queda das cotações desestimula os produtores e deve resultar em redução de 5,17% na área da safra 2025/26.
Para evitar um recuo maior na atividade, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) intensificou as compras públicas: em agosto, negociou 109 mil toneladas por meio de contratos de opção de venda, e anunciou mais R$ 300 milhões para uma nova rodada, que poderá garantir preços mínimos para até 200 mil toneladas.
Feijão
No feijão, a fotografia é mais complexa. O carioca de boa qualidade se mantém valorizado, com negócios entre R$ 180 e R$ 215 a saca no mercado paulista, podendo chegar a R$ 265 em padrões extras, segundo acompanhamento da Safras & Mercado.
Já o feijão-preto enfrenta um cenário oposto: a produção quase dobrou e os preços caíram para R$ 120 a R$ 140 a saca, abaixo do custo estimado de R$ 180 e até do preço mínimo oficial, de R$ 152,91. Em algumas regiões, negócios ocorrem abaixo de R$ 100.
Diante da pressão, o governo federal anunciou um pacote de R$ 21,7 milhões para leilões de apoio ao setor, destinados a escoar até 50 mil toneladas, principalmente do feijão-preto produzido no Sul.
Os leilões estão previstos para os dias 10 e 11 de setembro, em duas modalidades (Pepro e PEP), mas produtores questionam a eficácia do modelo, já que cada CPF só poderá comercializar até 8,4 toneladas.
Enquanto o arroz deve reduzir área de plantio, no feijão há expectativa de retração significativa na primeira safra do Paraná, estimada em 34%.
O alívio pode vir do mercado externo: entre janeiro e julho, o Brasil exportou 77,8 mil toneladas de feijão, o dobro do observado em anos anteriores.
Governo autoriza compra de feijão para garantir preço mínimo ao produtor