
A eventual aplicação pelos Estados Unidos de sanções a países que mantêm relações comerciais com a Rússia — por causa do conflito com a Ucrânia — já pressiona os preços dos fertilizantes e pode afetar diretamente o Brasil.
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Em 2024, o país importou 41,34 milhões de toneladas de fertilizantes, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), sendo cerca de 25% provenientes da Rússia. Se for incluído nas medidas, o Brasil pode enfrentar alta de custos e dificuldades de abastecimento, segundo analistas.
Para a safra de soja 2025/26, cujo plantio está prestes a começar, os efeitos devem ser limitados, já que a maior parte dos fertilizantes foi adquirida. No entanto, o cenário pode se agravar, principalmente, a partir de 2026, caso a guerra continue e as sanções se intensifiquem, diz Bruno Fonseca, analista de insumos do Rabobank.
Analistas apontam que países como Brasil, China e Índia dificilmente deixarão de comprar fertilizantes russos, devido ao volume necessário e à limitação de oferta de outros mercados. Mas preocupações com o fornecimento já levaram a Índia a antecipar compras, segundo relatório do Itaú BBA.
O banco ressalta que a substituição por fertilizantes de outras origens tende a elevar os custos, já que o insumo da Rússia é mais competitivo. Em 2024, por exemplo, 53% do MAP (fosfato monoamômico), 40% do KCl (cloreto de potássio) e 20% da ureia importados pelo Brasil vieram da Rússia.
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Para Fonseca, o mercado já demonstrou capacidade de adaptação, como ocorreu em 2022 , quando o Brasil ampliou compras do Canadá diante das sanções à Rússia e à Bielorrússia.
Mas ele observa que uma substituição forçada de fornecedores pode gerar pressão no curto prazo. O distanciamento atual entre EUA e Canadá, contudo, pode até facilitar as exportações canadenses ao Brasil.
A dinâmica de preços, já sensível à geopolítica, tem sido intensificada por eventos recentes. O ataque dos EUA ao Irã em junho ampliou tensões no Oriente Médio, elevando o preço da ureia. “O valor subiu devido à importância estratégica da região e, mesmo com a expectativa de queda, seguiu elevado com a entrada de Índia e Brasil nas compras”, lembra Fonseca.
Índia e EUA também enfrentam custos elevados no complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio). Segundo Tomás Pernías, analista da StoneX, o cenário decorre do desequilíbrio entre oferta e demanda global. A China, importante fornecedora, limita as exportações para priorizar o abastecimento interno, enquanto a forte demanda indiana sustenta os preços.
Em julho, a ureia subiu 5,2% nos portos brasileiros, segundo o Itaú BBA. A alta reflete ainda o início da fase de compras para plantio da safrinha de milho 2025/26. O potássio também se valoriza, informa o Rabobank, que estima uma alta de 10% nos preços dos fertilizantes em relação à safra passada.
O aumento das cotações e a oferta restrita mudam ainda o perfil e o volume das compras. Segundo a StoneX, entre janeiro e julho, as importações subiram quase 20% sobre o mesmo período de 2024.
Isso se deve à substituição de fertilizantes como o MAP e DAP (fosfato diamônico) por opções menos concentradas, como o SSP (super simples), que demanda um volume maior. Assim, o Brasil importou 2,1 milhão de toneladas de MAP, 7,6% menos que em 2024. No entanto, as importações de SSP ficaram quase 19% mais altas.
Já as importações de nitrogenados cresceram quase 12% em relação ao mesmo período de 2024.