Aumentar a presença do etanol brasileiro no mercado internacional depende de regras claras e estáveis, e do apoio do Ministério das Relações Exteriores. Foi o que afirmou, nesta quarta-feira (13/8) o diretor-presidente da Atvos, Bruno Serapião. Em evento promovido pelo BTG Pactual, ele disse que o setor já vem investindo em certificações e no atendimento de exigências de mercado.
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“Regra pode ser boa ou ruim, mas precisa ser a mesma”, disse Serapião, referindo-se à necessidade de previsibilidade regulatória, inclusive para garantir eficiência logística. Ele também destacou o peso de lobbies internacionais concorrentes.
“O lobby do petróleo é muito forte e o lobby do US Grains é muito grande, com 34 escritórios para promover o etanol ao redor do mundo. Então, precisamos que o Ministério abra essas portas para a gente, porque o produto é bom e a gente está pronto para suprir o mundo”, disse.
Bruno Serapião, diretor-presidente da Atvos, durante evento do BTG Pactual
Reprodução/BTG Pactual
O executivo também afirmou que o Brasil tem uma forte demanda interna e uma base consolidada para expandir sua atuação no mercado global. Ele vê oportunidade no contexto geopolítico atual, especialmente com a atuação dos Estados Unidos como contraponto a outros países.
Segundo Serapião, essa conjuntura abre espaço para alternativas de fornecimento, uma vez que os países desejam diversificar os fornecedores, e o Brasil, por sua boa relação com países do Sul Global, pode se posicionar como um player relevante. Ele mencionou conversas bilaterais sobre projetos de blending (mistura de combustíveis), e enfatizou a importância de que esses acordos tenham continuidade e não sejam apenas iniciativas temporárias em momentos favoráveis ao etanol.
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Felipe Vicchiato, diretor-financeiro do Grupo São Martinho, também ressaltou o diferencial ambiental do etanol brasileiro. Segundo ele, uma comunicação mais eficaz com mercados estratégicos, como o Japão, pode abrir oportunidades significativas, especialmente à medida que países impõem metas de descarbonização.
“No momento que você conseguir fazer uma articulação e explicar, por exemplo, para o Japão, que vai ter um mandato grande daqui a cinco anos para estar importando etanol, que o nosso etanol é o etanol com menor pegada, em vez de pegar o etanol dos Estados Unidos, que tem efetivamente ainda uma pegada bem pior do que o do Brasil. Aí você consegue abrir um mercado importante”, afirmou.
Vicchiato também alertou para o risco de uma abertura excessiva ao etanol importado, especialmente o de milho proveniente dos Estados Unidos. Para ele, o aumento nas importações pode pressionar o setor nacional, especialmente em um cenário de preços do petróleo mais baixos.
“Agora, o grande risco, do ponto de vista dos próximos anos, é a gente abrir esse mercado de peito aberto para importar etanol dos Estados Unidos. O petróleo do jeito que ele está, se começar a importar etanol para cá, a gente vai ter um problema, nos próximos anos”, concluiu.