Estudo aponta que casos de violência contra a mulher no Brasil podem dobrar até 2033

Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) revela que a violência contra a mulher no Brasil pode crescer 95% até 2033, caso o ritmo de ocorrências registrado nos últimos anos se mantenha. O levantamento analisou mais de 2,6 milhões de registros de violência contra a mulher no país entre 2013 e 2023 e indica que a violência avança de forma ampla e persistente, atingindo todas as faixas etárias.

Segundo o pesquisador Léo Nogueira, do Laboratório da Violência da UFC, “as projeções assumem uma continuidade sem intervenção nesses quesitos, elas foram gritantes, foram alarmantes. E esse alarme não deve ficar só dentro da comunidade científica, ele deve ir para a sociedade, ele é feito para a sociedade.” Ele reforça que, sem novas políticas públicas, o aumento projetado é provável, mas não inevitável. “O estudo mostra que, na maioria das vezes, a violência acontece dentro de casa e é praticada por pessoas próximas, como companheiros, ex-companheiros ou familiares”, completa Nogueira.

>>>Clique aqui para seguir o canal do GCMAIS no WhatsApp<<<

O levantamento mostra que, em cerca de 40% dos casos, as agressões se repetem e se acumulam, começando muitas vezes como violência psicológica e evoluindo para formas mais graves. “Estamos falando de um ciclo que se perpetua dentro de lares, escolas e ambientes de trabalho, e que muitas vezes passa despercebido porque a vítima não consegue ou não quer denunciar”, destaca Willian Caracas Moreira, pesquisador da UFC. Ele observa que o crescimento da violência no Norte e Nordeste tem sido acelerado, especialmente após o período pandêmico, enquanto o Sudeste concentra quase 50% do número total de casos.

A realidade brasileira, segundo os pesquisadores, se aproxima de padrões observados em outros países, como os Estados Unidos, mas apresenta especificidades locais. Um ponto crítico identificado é a subnotificação: mais de 60% das vítimas não procuram ajuda. “Medo, vergonha, dependência financeira e dificuldade de acesso aos serviços impedem que denúncias sejam feitas, o que reforça o ciclo da violência”, explica Willian Caracas Moreira.

>>>Siga o GCMAIS no Google Notícias<<<

O estudo também destaca casos recentes no Ceará que refletem essa realidade. Em Pacajus, uma mulher de 36 anos foi atacada com golpes de martelo pelo ex-companheiro. Em Missão Velha, uma psicóloga, mãe e educadora foi assassinada a tiros pelo ex-companheiro que não aceitava o fim do relacionamento. “Histórias diferentes, o mesmo padrão de violência”, ressalta Carlos Félix, especialista em segurança pública. Além disso, câmeras em cidades do interior e da região metropolitana flagraram cenas de importunação sexual em plena luz do dia, reforçando a gravidade do problema.

Para Andressa Esteves, advogada e membro da Comissão da Mulher da OAB-CE, esses números representam uma “verdadeira epidemia” que exige resposta imediata do Estado. “Esses dados revelam algo que a gente que atua em defesa do direito das mulheres já sabe na prática, já sente na prática, que o Brasil vive uma verdadeira epidemia de violência de gênero e de feminicídios. Esse dado mostra não um alerta distante, mas um alerta urgente de que medidas precisam ser tomadas”, afirma. Ela reforça que, sem políticas públicas consistentes e de longo prazo, a tendência é que a violência aumente ainda mais, colocando em risco milhões de mulheres no país.

O estudo conclui que a violência contra a mulher no Brasil é um problema estrutural, persistente e multifacetado, que exige medidas urgentes de prevenção, proteção e responsabilização. Para os pesquisadores, apenas políticas públicas estratégicas, programas de conscientização e mecanismos de proteção efetivos podem alterar o cenário projetado, que hoje aponta para quase o dobro de casos em uma década.

Leia também | Aluna morre após mal súbito durante treino em academia de Fortaleza

>>Acompanhe o GCMAIS no YouTube<<<