Escalada da violência ocorre em meio a disputa de facções por regiões de escoamento de drogas

A disputa por regiões estratégicas de escoamento de drogas e armas, em Fortaleza, tem dado o tom dos conflitos entre facções criminosas na cidade, provocando uma escalada da violência ao longo dos últimos dias. É o que aponta o coordenador do Comitê de Prevenção e Combate à Violência (CPCV) da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), Thiago de Holanda, que falou com a equipe da TV Cidade Fortaleza sobre o tema.

“Quando um [grupo] está mais fraco, tem suas lideranças aprisionadas, descapitaliza, perde arma, o outro vai ocupar o espaço. Não existe vácuo e não existe nenhuma agência reguladora, ela se regula pela lógica da violência, do crime, dos homicídios, da arma de fogo”, explica ele.

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Esses conflitos resultaram, nas últimas segunda (15) e terça-feira (16), em uma sequência de fogos de artifício em diversos bairros de Fortaleza, como Vicente Pinzón e Lagamar. Trata-se de comemorações, por parte dos grupos criminosos, após ocupações de novos territórios que antes estavam sob o domínio de rivais.

O especialista ressalta que os efeitos dessas disputas vão além dos confrontos armados, atingindo o cotidiano da população. “A gente tem escola fechando por conta de confrontos e tiroteios. A gente tem hoje o sistema de atendimento a pessoas no campo da saúde mental colapsado, como os CAPS. Pessoas que sofrem traumas por conta dessa violência. Pessoas que sofreram tentativas de homicídio, passaram pelo IJF e hoje estão em casa com lesão medular, com outras questões de saúde. Impacta também na própria economia do estado, principalmente no campo da saúde, das demandas de assistência social, do atendimento direto às vítimas…”

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Há quem argumente que o controle de um grupo criminoso sobre a maior parte das comunidades pode ser um passo para a diminuição dos conflitos, Thiago, no entanto, destaca que a prevalência de um grupo criminoso sobre a maioria ou totalidade dos territórios não garante o fim dos confrontos: “articulações dos rivais podem trazer revides ainda mais violentos”, alerta.

Para enfrentar esse quadro, além do reforço na inteligência e ação policial, Thiago destaca a importância de um enfoque preventivo, com políticas que desestimulem o recrutamento dos mais jovens pelas facções. “Tem jovens que já estão com marcadores que colocam eles muito vulneráveis a algum homicídio, por exemplo”, assinala.

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Ele cita a pesquisa Vidas por um Fio, desenvolvida pelo próprio Comitê de Prevenção e Combate à Violência, apontando que peça chave nessa equação é o recrutamento de adolescentes que passaram por medidas socioeducativas de privação de liberdade – “só de estar na privação de liberdade já coloca ele em um risco maior.”

O coordenador enfatiza a importância de oferecer alternativas para esses jovens, com medidas que o acompanhem também após os períodos de privação de liberdade. Segundo ele, se não houver oportunidades depois do ocorrido e lugares seguros onde possam prosperar, vão acabar sendo assimilados por um dos grupos criminosos. “Ele chama uma facção de família e a gente chama de facção. Então é uma irmandade que traz sentido para esses adolescentes. A gente precisa chegar nessa mente desses adolescentes, nessa subjetividade desses adolescentes, dizendo que temos outra possibilidade de vida.”

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Regiões de escoamento são disputadas por facções em Fortaleza, para impulsionar atividades criminosas