
Empresas, entidades e torrefadoras do café americanas estão em Washington em uma força-tarefa para tentar isentar os grãos importados pelos EUA das tarifas anunciadas por Donald Trump, marcadas para entrar em vigor, no dia 1 de agosto. O segmento espera que o café — proveniente principalmente do Brasil — seja exceção e consiga se livrar das sobretaxas. Para isso, tem buscado interlocução com autoridades americanas, como os secretários do Comércio, do Tesouro e da Agricultura.
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O trabalho está sendo permanente, mas a pressão foi intensificada esta semana, disse ao Valor o diretor-executivo do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), Marcos Matos. A entidade está em contato com as contrapartes americanas, em busca de um acordo para obter isenção da sobretaxa para o café do Brasil. Os EUA importam cerca de 24 milhões de sacas de café ao ano, e 34% desse volume têm origem no Brasil.
O presidente da National Coffee Association (NCA, sigla em inglês), entidade que representa a indústria torrefadora de café nos EUA, já está na capital americana para reuniões com autoridades nesta sexta-feira (25/7), apurou o Valor.
Apesar de certo otimismo entre as empresas americanas de que o café possa ficar isento das sobretaxas, há no próprio segmento quem tema a imprevisibilidade do presidente Donald Trump, disse uma fonte ligada às negociações.
Uma das companhias que têm buscado convencer as autoridades americanas sobre o risco da sobretaxa é a cafeteria Starbucks, apurou a reportagem.
Starbucks é uma das companhias que têm buscado convencer as autoridades americanas sobre o risco da sobretaxa
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O fato de os EUA dependerem do café produzido em outros países é o que faz o segmento acreditar na possibilidade de isenção das tarifas, disseram fontes.
O receio da cadeia do café é de que a sobretaxa sobre o produto possa impactar a oferta a médio prazo nos EUA, aumentando o custo para o consumidor americano, com reflexos nos índices de inflação e na economia do país.
De acordo com uma fonte da indústria no Brasil, os principais alvos de pressão das empresas americanas são a secretária de Agricultura, Brooke Roolings, e o secretário do Comércio, Howard Lutnick.
A National Coffee Association, que em abril já havia pedido a isenção do café importado a parlamentares dos EUA, continua com a agenda cheia de reuniões na tentativa de obter a exceção para o grão, em especial o do Brasil, apurou o Valor.
Agora, os parlamentares americanos, de forma oficial e por conta própria, decidiram acolher o tema da sobretaxa de 50% ao Brasil, de acordo com fontes. Em junho, antes mesmo do anúncio da tarifa maior para os produtores brasileiros, alguns congressistas americanos assinaram uma carta pedindo pela isenção do grão.
“Segundo temos avaliado, ambos os países teriam impactos sociais e econômicos, já que os EUA é o maior consumidor mundial e o Brasil o seu maior fornecedor de café, com 34% da participação de mercado. Os impactos aos torrefadores e industriais de café seriam expressivos, pois não haveria um substituto de curto prazo e ainda poderia causar aumento de preços, inflação e dificuldades no abastecimento”, explicou Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé.