O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco) acusou o empresário Mohamad Hussein Mourad, que teria relações com o PCC, de ter comprado as usinas de cana-de-açúcar Itajobi e Carolo, que estavam em dificuldades financeiras, para usá-las como peça central de um esquema de “fraudes fiscais estruturadas” lavagem de dinheiro. O Gaeco disse ainda que há indícios de que o empresário também pode ter comprado outras empresas do setor, como a Usina Rio Pardo e a Usina Furlan.

Em comum, todas essas usinas passaram por dificuldades financeiras durante a crise do setor da década passada, e muitas delas entraram em recuperação judicial.

O empresário teria comprado a Usina Itajobi por meio do FIDC Mabruk II, gerido pela gestora Reag, comprometendo-se a quitar as dívidas da empresa e indenizar as propriedades arrendadas para assumir 100% de suas ações. Já a Usina Carolo teria sido comprada por meio do Fiagro Participation. O empresário teria utilizado os fundos para ocultar sua participação nos negócios.

A investigação apontou que as usinas adquiridas por Mourad teriam praticado sobrepreço na compra de cana-de-açúcar, o que pode indicar um esquema de fraude fiscal, em que os “preços dos insumos são inflados artificialmente para sonegar impostos e obter créditos indevidos”, explicou o Gaeco.

Também há “suspeita de movimentação financeira sem lastro” nas contas das usinas Itajobi e Carolo.

A denúncia afirma ainda que outras usinas da região de Catanduva (SP) foram usadas no esquema de ocultação de patrimônio e fraudes de Mourad. Uma delas é a Usina Rio Pardo, que segundo o Gaeco “foi aparentemente recentemente adquirida” por Mourad, no mesmo esquema da compra da Usina Carolo.

Duas pessoas ligadas ao empresário passaram a figurar no quadro societário da Usina Rio Pardo: Henrique Dalkirane Filho e Jomar Maurício Fornielis das Chagas, que também aparecem ligados à Usina Itajobi.

Outro indício de que Mourad poderia ser sócio oculto da Usina Rio Pardo é a identificação de sobrepreço na aquisição de cana-de-açúcar a partir de 2022. “Isso reforça os indícios da assunção da usina pelo grupo investigado”, afirma a denúncia.

Quanto à Usina Furlan, o Gaeco afirma que “embora não tenha tido sua aquisição direta pelo grupo Mohamad inicialmente identificada, apresenta diversos elementos que sugerem uma forte associação ou um processo de aquisição/controle em andamento por parte da organização criminosa”.

A distribuidora de combustíveis Duvale e a fintech BK, que fariam parte do esquema de Mourad, teriam enviado valores “significativos” à Usina Furlan, como uma transferência de R$ 3.667.000,00, e outra de R$ 4.919.900,00. Segundo a denúncia, essas transferências são “um forte indicativo de lavagem de capitais”.

Outro indício a respeito da Usina Furlan é a prática de compra de cana-de-açúcar com sobrepreço a partir de 2022.

Mais uma usina que o Gaeco suspeita que possa ter sido adquirida pelo grupo de Mourad ou que possa estar em processo de aquisição é a usina Comanche. Ela foi a maior destinatária de etanol produzido pela Usina Itajobi e pela Usina Carolo, e teria vendido etanol para várias distribuidoras do grupo de Mourad.

A última empresa que estaria dominada pelo esquema criminoso é a Goiás Bioenergia, que segundo a denúncia é registrada como uma produtora de etanol, mas é uma empresa de fachada. Segundo a denúncia, a Goiás Bioenergia está no nome de duas laranjas: Maria Edenize Gomes e Ellen Bianca de Franca Santana Resende.

Investida sobre a GVO
O empresário ainda estaria em uma investida para tomar o controle das usinas do Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), que está em recuperação judicial e com duas usinas em leilão. Segundo a denúncia, Mourad já teria adquirido, por meio do fundo Mabruk II, créditos bancários da GVO com garantia real para se colocar no polo credor.

O empresário também utilizou outro fundo, o Celebration, para acertar um contrato de parceria agrícola com a GVO, “apossando-se de propriedades rurais” produtoras de cana nas regiões de Catanduva e Itapira.

Ainda segundo a denúncia, Mourad e o PCC “se beneficiam do ecossistema de lavagem de capitais facilitado pela atuação nas usinas e no setor de combustíveis”. Todas essas usinas passaram a estabelecer relações de venda de combustível com distribuidoras que foram identificadas como agentes do esquema de lavagem de dinheiro, além de passaram a utilizar a fintech BK para movimentar recursos financeiros.

A denúncia aponta ainda que há outras “pessoas chave” que estão envolvidas na compra e gestão dessas usinas: Walter Martins Ferreira III, Henrique Dalkirane Filho, Ramon Pessoa Dantas, Silvano Gersztel e João Carlos Falbo Mansur. Mansur é sócio da gestora Reag, que administrava alguns fundos de Mourad, e que foi alvo das operações de busca e apreensão desta quinta-feira.

28/08/2025 14:40:52