
Além de destravar as negociações entre Brasil e Estados Unidos, a conversa por telefone entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chefe da Casa Branca, Donald Trump, na segunda-feira (6/10), evidenciou que os americanos estão sendo afetados pela elevação do preço do café por conta do tarifaço. Segundo interlocutores que participaram da agenda, Trump mencionou a Lula a questão do grão no mercado interno, mesmo sem o presidente brasileiro fazer qualquer tipo de referência à bebida como exemplo negativo da contenda comercial entre os dois países.
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O impacto das tarifas sobre o café tem sido particularmente visível na população americana. Em agosto, por exemplo, quando a tarifa de 50% entrou em vigor, a alta total dos preços nos Estados Unidos foi de 0,4%, mas, ao olhar especificamente para o café, esse aumento chega a 3,6%. Como resultado disso, os volumes vendidos do produto recuaram 17,5% na comparação com agosto de 2024, segundo dados do Conselho dos Exportadores Café do Brasil (Cecafé).
O debate econômico sobre o efeito que o tarifaço vem causando esteve presente em parte da conversa entre os dois líderes, que durou cerca de 30 minutos. Se, do lado americano, Trump citou o impacto sobre o café, do lado brasileiro, Lula destacou que a balança comercial entre os países encerrou o ano de 2024 com um déficit superior a US$ 28 bilhões para o Brasil, considerando a soma de bens e serviços. Por conta desses dados, o chefe do Executivo brasileiro argumentou que não faz sentido a tarifa ao país.
De acordo com interlocutores que participaram da agenda, o presidente brasileiro enfatizou questões que considera essenciais para o governo dos EUA rever, como a sobretaxa de 40% e as sanções impostas a autoridades brasileiras. Nesse ponto, fontes destacam que Lula não mencionou nomes específicos, mas reforçou a importância da retirada das sanções.
De olho em negociar, Lula se mostrou aberto ao diálogo e afirmou que o Brasil está disposto a tratar de questões comerciais sem impor restrições a temas específicos. Entre os assuntos que poderão ser abordados nas negociações está a regulação das grandes empresas de tecnologia (“big techs”). Além disso, o petista já admitiu publicamente a possibilidade de uma parceria entre Brasil e EUA no setor de minerais críticos e terras raras. A única condição do governo brasileiro é que qualquer acordo seja estruturado de maneira a fortalecer o desenvolvimento nacional.