
O surgimento de casos de quebra de hastes de soja sem uma causa específica em lavouras do Paraná e Mato Grosso nas duas últimas safras trouxe preocupação aos produtores. Havia suspeitas de surtos de cancro da haste (uma doença causada pelo fungo Diaporthe phaseolorum) ou alguma doença nova da soja. Pesquisadores da Embrapa Soja, Fundação Rio Verde e Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp estudaram os casos e concluíram que não se trata doença, mas de uma reação ao ambiente.
“As pesquisas realizadas indicaram que a causa do quebramento da haste é abiótica, não foram detectados vírus, bactérias ou fungos nas plantas que provocassem o quadro”, diz Maurício Meyer, pesquisador fitopatologista da Embrapa Soja. Foram identificadas nas plantas a quebra das hastes numa parte do caule mais perto do solo, com colapso do sistema vascular da planta na região. “Esse quadro foi observado em plantas que passaram por chuvas fortes ou chuvas com ventos fortes, seguidas de picos de temperaturas elevadas”, acrescenta Meyer.
As perdas causadas pela quebra de haste ficaram em torno de 1%, segundo o pesquisador. Embora o percentual seja baixo, observa Meyer, a quebra da haste deixa partes da planta mais expostas ao ataque de fungos e bactérias, podendo favorecer o desenvolvimento de doenças.
Manejo
Meyer diz que a solução para o problema envolve melhorias no manejo, como uso de plantas de cobertura para melhorar a drenagem do solo e adoção de palhada para reduzir a temperatura do solo na época de calor.
Rafael Furlanetto, gerente do departamento agronômico na Cocamar Cooperativa Agroindustrial, diz que dos 800 mil hectares cultivados pelos cooperados da Cocacamar com soja, “poucas áreas” apresentaram esse efeito. “Houve casos mais na região de Londrina, em áreas de menor altitude e que tradicionalmente apresentam temperaturas mais elevadas”, observa Furlanetto. Ele acrescenta que houve quebra de hastes em áreas com rotação entre soja e milho e em lavouras com solo mais exposto. Furlanetto diz ainda que não houve morte das plantas, apenas o tombamento, e que não houve perda dos grãos.
João Batallini, consultor técnico do Centro Tecnológico da Cooperativa Agropecuária e Industrial (Cocari), relatou casos esporádicos de quebramento de haste na safra 2023/24 em propriedades em Marialva e Santa Fé, na região de Maringá (PR). “Houve tempestades em alguns dias e as plantas deitaram. Por qualquer coisa a planta quebrava. Nessas áreas a perda foi significativa, de 25% a 30%. Neste ano não teve esse problema. Em Marialva chegamos a ver quebramento, mas não chegou a ter perda de produtividade”, diz Batallini.
Segundo o consultor técnico, chuva muito forte na fase inicial da safra seguida de dias muito quentes provoca estrias no caule e quebramento nas hastes. Ele observa que a chuva de vento não é comum na região. “Houve quebramento pelo clima, mas não identificamos uma causa específica para o enfraquecimento do caule. Ainda estamos no escuro buscando uma resposta”, diz Batallini.
Soja com haste quebrada
Arquivo pessoal / Maurício Meyer
Em Mato Grosso, produtores relataram casos pontuais de quebramento de haste e podridão da soja. “O quebramento foi mais pontual e relacionado com estresse climático e plantio fora da janela ideal. A podridão de grãos é associada à ação de um fungo do gênero Diaporthe”, diz Luana Belufi, pesquisadora e coordenadora do Departamento de Fitopatologia da Fundação Rio Verde.
Esse gênero de fungo também provoca podridão da haste e seca de vagem. Nas áreas mais atacadas, a perda com grãos avariados pode chegar a 35% da produção, segundo a Embrapa.
Meyer diz que o aumento da podridão de grãos é uma consequência da mudança no sistema de produção da soja. “Com a segunda safra ganhando cada vez mais importância, os produtores começaram a plantar soja mais cedo, para colher antes e plantar milho ou algodão na sequência. Com isso, a maior parte da soja é produzida em um momento mais inóspito para a planta. O produtor planta a soja no seco e, quando colhe, em janeiro, é o momento de maior índice de chuvas, o que favorece a proliferação de fungos.
Para esses casos, diz Meyer, a melhor solução é selecionar variedades com resistência ao fungo, ou adotar fungicidas específicos para o problema.