Por anos, a população de Orós e região manteve a expectativa silenciosa, quase religiosa, de presenciar novamente um dos maiores espetáculos naturais do sertão: a sangria do açude Orós. E, após uma longa espera, o momento finalmente chegou na noite de 26 de abril de 2025, quando o segundo maior reservatório do Ceará voltou a transbordar, reacendendo memórias, emoções e a esperança de dias melhores.

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A última vez que o Orós havia sangrado foi em 2011. Desde então, a seca castigou o interior cearense, e o açude chegou a registrar, em 2020, menos de 5% de sua capacidade. Ver novamente o reservatório ultrapassando seu limite é, para muitos, um sinal de bênçãos. É assim que define a professora Elisa Campelo, de Jaguaribe: “Dessa vez, ele não trouxe tragédia, mas esperança para quem vive às margens do Jaguaribe.”

Durante semanas, os moradores contaram cada centímetro que faltava para o ápice. O adolescente Jorge Henrique, de 14 anos, nunca havia presenciado a sangria. A ansiedade era tanta que, na escola, ele e os colegas brincavam com a ideia de encher o açude com baldes d’água. Já o jovem Gabriel Silva, de 20, lembra vagamente da última vez e, agora, comemora por ter presenciado o feito com clareza e entusiasmo.

O impacto do evento ultrapassou os limites da cidade. Visitantes de diversas partes do estado e até de outros estados fizeram questão de ir até o local. A influenciadora digital Naftaly Ferroli, por exemplo, transformou seu aniversário em uma celebração à vida nas águas do açude. Com amigos, navegou pelo espelho d’água, almoçou em ilhas e mergulhou nas emoções daquele momento histórico.

O Orós, com capacidade de quase 2 bilhões de metros cúbicos, é mais que um reservatório: é símbolo de sobrevivência e identidade regional. Inaugurado em 1961, o açude tem raízes históricas que remontam ao século XIX, quando já se discutia a construção de barragens como solução para os longos períodos de estiagem. Sua missão vai além do abastecimento: pereniza trechos do rio Jaguaribe, sustenta a agricultura, alimenta o comércio e movimenta o turismo.

Durante o feriado da Semana Santa, a cidade viveu um dos maiores fluxos turísticos de sua história. Fila dupla de carros nas estradas, restaurantes lotados e vendedores celebrando um faturamento fora do comum marcaram o período. Para o secretário municipal de Cultura e Turismo, Luis Eduardo Barbosa, a mobilização mostra o poder de transformação que o Orós exerce. “O coração da cidade bate no ritmo das águas do açude”, afirma.

Essa ligação afetiva e cultural se desdobra em eventos como o “Pôr do Sol no Orós”, onde o cenário do açude é palco de música, gastronomia e artesanato. Além disso, toda a pesca comercializada na região é fruto das águas do açude, fortalecendo a economia local.

O historiador Kamillo Karol, doutor pela Universidade Federal do Ceará, vê no Orós uma marca do tempo. Em sua tese, ele destaca a construção do reservatório como um divisor de eras para o povo sertanejo: da angústia da seca à esperança da perenização. “É uma nova forma de se relacionar com o Jaguaribe. Da frustração à esperança, o Orós é símbolo de transformação no semiárido”, explica.

O retorno da sangria reacende o sentimento de fé. A professora Mauricéa Medeiros resume o sentimento de toda uma população: “Água é vida, e esse açude cheio é sinal de fartura, de futuro. É como se o céu tivesse respondido às nossas preces”.

 

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Fonte: DN

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