Depois de atingir um pico histórico por causa da escassez de oferta, causando euforia entre produtores, o preço do cacau não para de perder força na bolsa de Nova York. Desde dezembro de 2024, quando os contratos futuros atingiram o patamar recorde, de US$ 12.565 por tonelada, a desvalorização chega a 56,6%, segundo o Valor Data.

Sinais de melhora na oferta no oeste da África, maior produtor global da amêndoa, e redução no consumo mundo afora, em decorrência dos preços elevados, explicam o forte declínio das cotações, segundo analistas e indústria ouvidos pelo Valor.
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Ale Delara, diretor da Pine Agronegócios, usa um jargão do mercado para definir o atual cenário. Segundo ele, o preço do cacau se “esticou” demais em 2024, o que abriu espaço para uma correção. E a supervalorização da amêndoa provocou a destruição da demanda, algo já esperado.

No campo, entre produtores que haviam se animado com os preços elevados dos últimos dois anos, a queda das cotações é assunto dominante. Não é por menos: a valorização da amêndoa serviu de estímulo para que muitos deles investissem em aumento da produção e também na mecanização da atividade, que, em geral, ainda é pouco tecnificada.

Em conversa com o Valor, Basílio Leite, que produz cacau em Ilhéus (BA), chamou a alta dos últimos anos de “surto”. “Eu cheguei a vender por R$ 1.050 a arroba [US$ 12.900 por tonelada]”, afirma. Agora, ele vê a cotação recuar e defende que as indústrias pratiquem “preços razoáveis”. “Já chegou até a R$ 270 pagos ao produtor por arroba [o equivalente a US$ 3.300 por tonelada], que é praticamente o preço de três anos atrás”, acrescentou.

Leite afirma que a cacauicultura é uma atividade cara e que a valorização do produto fez agricultores investirem nas fazendas e em insumos para as lavouras. Agora, diz, a redução de preço tende a afetar esse movimento.

Atualmente, os preços na bolsa estão oscilando em uma faixa que varia entre USS 5 mil e US$ 6 mil a tonelada. Para Delara, da Pine Agronegócios, é cedo para falar em cotações entre na faixa entre US$ 2 mil e US$ 3 mil a tonelada, preço que se praticava em Nova York antes de estourar a crise de oferta de cacau. Segundo ele, é preciso ficar atento ao clima.

“Há uma previsão de que o La Niña poderá deixar o tempo mais quente e seco no oeste da África a partir de dezembro. Isso pode prejudicar a colheita da safra intermediária”, observa.