As tensões diplomáticas entre Brasil e EUA podem respingar sobre os planos do país de lançar, ainda este ano na COP-30, um fundo específico para financiar a preservação de florestas tropicais em todo o mundo. Lançado inicialmente na COP-28, em Dubai, o Tropical Forest Finance Facility (TFFF) está em fase de estruturação e conta com o Banco Mundial como instituição financeira capaz de viabilizar sua operação.
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Durante participação no evento de 30 anos do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), em São Paulo, o assessor especial do Ministério do Meio Ambiente (MMA), André Aquino, destacou que a instituição financeira tem forte influência dos EUA, que poderiam vetar a solicitação feita pelo Brasil.
“O poder de voto do Banco Mundial é baseado no volume de recursos aportados e os Estados Unidos têm um volume, importante, acima de 30%. Na prática, isso nunca aconteceu. Mas tem muita coisa que nunca aconteceu e está acontecendo atualmente”, reconheceu Aquino.
Segundo ele, o TFFF possui alternativas e poderia recorrer a outros bancos multilaterais de desenvolvimento, mas sem o mesmo peso que a instituição traria.
“Isso é algo fundamental para a decisão dos países, porque o Banco Mundial, na verdade, agrega muita confiança dos investidores. O Banco Mundial é parceiro fundamental desde o início. Eles são o parceiro que mais nos tem apoiado tecnicamente, mas agora é uma questão política dentro da instituição”, acrescentou Aquino.
Nos próximos dias, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) deve divulgar novos detalhes do TFFF. Uma nota de conceito trará especificações sobre como será realizado o pagamento a povos tradicionais em resposta a questionamentos feitos pelos países interessados em participar do Fundo, permitindo destravar a captação de recursos necessárias para viabilizá-lo.
“Estávamos ainda com algumas questões técnicas em aberto e o foco agora se volta para o levantamento do fundo. Este é um esforço de toda a equipe do governo federal que vai continuar daqui até a COP”, afirmou Aquino.
Anunciado durante a COP-28 em Dubai, o TFFF tem potencial de captar US$ 125 bilhões e financiar cerca de 1 bilhão de hectares de florestas tropicais no mundo, segundo o MMA. A expectativa é de que seu lançamento permita agregar valor a áreas com floresta tropical preservada, elevando o custo envolvido na remoção da vegetação nativa.
“Esse risco continua existindo, mas o TFFF é justamente uma aposta para reduzir esse risco, pois o desmatamento representaria até R$ 7 bilhões perdidos anualmente”, explicou o assessor especial do MMA.