Os produtores rurais e empresas de menor porte do agronegócio estão acessando cada vez mais os fundos de direitos creditórios (FDICs). Na Lund, da Eco Gestão, por exemplo, o maior aumento do patrimônio sob gestão foi nos FIDCs monocedentes da indústria de insumos agrícolas — ou seja, de uma só empresa que financia a venda a prazo a seus clientes. O total nessa categoria soma R$ 5 bilhões, dos R$ 7 bilhões sob gestão.
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Já a carteira da Multiplica Crédito e Investimentos, que tem R$ 5,2 bilhões em FIDCs, sendo 60% de recebíveis do agronegócio, teve crescimento de 26% neste ano no total, incluindo outros setores econômicos, sendo R$ 1 bilhão só em agro, segundo o sócio fundador Eduardo Barbosa.
“O agro teve muito problema em 2024 e deu um baque no mercado. Mas é um segmento que demora duas safras para se recuperar, então no momento o capital existe, mas o pequeno e o médio não veem”, afirma. Segundo ele, quando os bancos se retraem, entram as casas menores, com crédito mais rápido. “Passamos a ser muito procurados, inclusive por grandes empresas.”
Para se ter uma ideia de como o produtor está cauteloso, nos dois primeiros meses do Plano Safra 2025/26, os desembolsos do crédito rural caíram 23% na comparação com igual período do ciclo anterior. Foram concedidos R$ 93,6 bilhões, abaixo dos R$ 115,8 bilhões entre julho e agosto de 2024.
Na Multiplica, o provisionamento para devedores duvidosos ficou, de dezembro de 2024 a agosto, em 1,3% da carteira. Em setembro, a gestora reduziu a 0,9%. Outra mudança que Barbosa percebeu entre os clientes foi o aumento da procura de empresas de maior porte. O mercado de CRAs não se fechou para eles, mas recorreram aos FDICs num movimento de diversificação de fontes de financiamento. “O produtor precisa de fôlego e isso acontece por injeção de capital ou grandes players, grandes revendas, empresas de insumo e fertilizantes que têm que suprir necessidades”, afirma.
Para administrar a inadimplência mais alta, Barbosa afirma que, além de monitoramento e mais exigências na concessão, vem redirecionando as operações entre os segmentos. No ano passado, ele segurou as operações com produtores de soja e milho e ampliou para outras culturas. Até 2027, a expectativa é crescer 30% ao ano, com o agro no foco.
A Catálise, que atua com empresas com faturamento anual de R$ 200 milhões a R$ 5 bilhões, iniciou em 2025 com mais exigências. Marcelo Aoki diz que a gestora não aceita mais produtores sem seguro climático ou com mais de 30% da terra arrendada. “A perspectiva dos FIDCs é boa, mas a do agro não é tão boa. Não há setor que se sustente pagando 15% ao ano” de juros, diz.
Na Asset Bank, o crescimento maior foi no segmento de médios produtores, com faturamento de até R$ 30 milhões por ano, por causa da retração dos bancos. Gustavo Assis, CEO da gestora, diz que tem R$ 3 bilhões em 42 FIDCs. Ele diz que o tíquete médio é baixo porque a carteira é pulverizada.
“O pior já passou”, avalia Guilherme Grahl, sócio da gestora Valora responsável pelo agro. “Hoje o que vemos é mais um rescaldo do passado. O ambiente macro já melhorou para a commodity, ainda está em um preço baixo, mas os custos se equalizaram”, diz. Aoki, da Catálise, concorda: “As carteiras já estão limpando, os produtores entrando na nova safra. É um processo.”