
O corte de 42% no orçamento do seguro rural neste ano reforça a imprevisibilidade do setor no país e pode gerar nova “fuga” de resseguradoras, dizem executivos de seguradoras. A falta de prioridade para a política, que sequer foi mencionada no lançamento do Plano Safra 25/26, põe dúvidas sobre as intenções anunciadas pelo Ministério da Agricultura de modernizar o programa e conseguir mais recursos para a subvenção.
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“Já tivemos quase 14 milhões de hectares segurados, nos últimos anos foram cerca de 7 milhões e neste ano estávamos programados para fazer 20 milhões de hectares. Chamamos os resseguradores, pedimos capital, e agora vamos fazer 5 milhões? No ano que vem não vai ter esse dinheiro”, afirma Glaucio Toyama, presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg.
Para ele, os sinais que o Brasil passa são de fragilidade para o futuro. “Isso começa a prejudicar o desenvolvimento do mercado. Não existe capital de risco abundante hoje para evento climático. Se quiser ter capital, tem que ter ações adequadas. Os programas que não têm clareza para onde vão, vão embora”, afirma.
Rodrigo Motroni, vice-presidente da Newe Seguros, diz que a imprevisibilidade limita a capacidade de investimento das seguradoras. “As incertezas só aumentam. Como falar em inovação sem garantias?”, indaga.
Há reclamações também acerca dos sinais enviados ao mercado sobre modernizações nessa política que não ocorrem. Nos últimos meses, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, passou a defender a integração do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) ao Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), com a migração de público e de orçamento. A possibilidade foi negada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. O Banco Central, gestor do Proagro, não respondeu à reportagem.
Fávaro prometeu apresentar um novo modelo de seguro rural no Plano Safra 25/26. A intenção seria prever a contratação obrigatória para produtores que acessam crédito subsidiado e garantir o aporte de subvenção para a modalidade de seguro paramétrico, que se baseia na definição de índices para customização da apólice.
Mas apenas neste mês a Pasta, em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), publicou um termo de referência para contratar um consultor para realizar estudos sobre a “modernização” do seguro rural, com prazo de conclusão em cinco meses.
Entre os objetivos do estudo está identificar o modelo mais eficiente para o PSR, com a consideração de “produtos ainda não totalmente consolidados, como o seguro paramétrico” e a migração do público atendido pelo Proagro para o PSR. Procurado, o Ministério da Agricultura disse que “até o momento, não foram definidas propostas” para modernização da política de seguro rural. Sobre a intenção de integração do PSR ao Proagro, a Pasta “não tem informações”.