Uma cooperativa do Piauí calcula que o mel exportado para os Estados Unidos pode ficar até 70% mais caro para o importador a partir de 1º de agosto, quando passa a valer a tarifa de 50% sobre o Brasil. Em nota, a Comapi, de Simplício Mendes, no semiárido piauiense, destaca que a sobretaxa não será a única cobrança sobre o produto, que ainda sofre uma sanção antidumping do governo americano.
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“A medida (tarifa de 50%) se soma ao mecanismo de antidumping já vigente, que impõe até 2,31% adicionais no custo de exportação. Com isso, o mel brasileiro pode chegar ao mercado norte-americano até 70% mais caro para o importador final. Na prática, isso torna a exportação economicamente inviável”, avalia a cooperativa.
Os Estados Unidos adotaram uma sanção antidumping contra o produto a granel do Brasil atendendo a um pedido de duas associações locais de apicultores. O processo incluiu Argentina, Índia e Vietnã.
Renato Azevedo, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel) conta que essas entidades de produtores pediram proteção, alegando que o produto de outros países era vendido abaixo do custo. Depois de uma investigação, o governo americano decidiu aplicar as taxas, que passam por revisão periódica.
“A taxa antidumping vale só para produto a granel. Para quem envia produto acabado, o que é quase inexistente, não existe essa taxa. Os 50% estão pegando para todo mundo”, explica.
Em 2020, ano de referência para o processo, o país comprou 34,18 mil toneladas de mel do Brasil, a US$ 69,49 milhões. A medida não impediu o crescimento desse comércio nos últimos anos, mostram os dados da entidade. Os Estados Unidos são o principal destino do produto nacional.
Exportações de mel em 2025 – janeiro a junho
Globo Rural (com dados da Abemel)
Azevedo, pontua que, mesmo incluído na medida antidumping, o Brasil tinha vantagem no mercado americano, porque recebeu taxas menores que seus concorrentes. A sobretaxa de 50%, anunciada pelo presidente Donald Trump, inverte a situação.
“Antes, como a de todo mundo subiu, mas a nossa subiu menos, a situação era melhor. Agora, com esses 50% aplicados para o Brasil e não para os nossos concorrentes de mel, estamos em uma posição muito desfavorável”, diz.
Mel é coocado em galão para exportação a granel. Estados Unidos são o país que mais compra o produto brasileiro
Comapi/Simplício Mendes (PI)
Ele também prevê um aumento no preço de exportação, devido ao tarifaço. Mas a conta é mais conservadora: de até 55% de alta no valor final para o importador. Ainda assim, é significativo. “Os compradores americanos tentarão arrochar os preços de compra aqui. Não conseguimos assumir tudo isso. Não tem margem”, prevê.
Azevedo espera que os dois países negociem uma solução. Antes mesmo da sobretaxa entrar em vigor, vendedores brasileiros receberam de compradores americanos pedidos para não enviar carregamentos já encomendados. Contratos de exportação de mel são fechados de três a seis meses antes do envio das mercadorias.
Saiba-mais taboola
Em Simplício Mendes, no Piauí, os associados da Comapi também esperam por uma solução. A cooperativa, fundada em 2007, resulta de um trabalho com comunidades locais iniciado ainda no final da década de 1980 por um bispo católico. A primeira associação de apicultores foi criada em 1994. A primeira exportação de mel, com destino à Itália, foi em 2002.
O produto da cooperativa é orgânico e, segundo a diretora, Janete Dias, tem pelo menos cinco certificações para venda no Brasil e no exterior. Toda a produção vem da agricultura familiar, que tem na apicultura uma parte significativa de sua renda.
“Sem a exportação, diminuirá muito a renda. É preciso abrir novos mercados, fortalecer os canais internos de comercialização, garantir linhas de crédito específicas e construir pontes diplomáticas que revertam, ou ao menos minimizem, os impactos dessa decisão”, defende a cooperativa, em nota.