Anvisa proibiu a venda de três marcas que comercializavam este tipo de produto A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a venda e determinou o recolhimento de três marcas de “pó para preparo de bebida sabor café”, chamada pela indústria do setor de “café fake”.
Os produtos foram submetidos a uma inspeção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que identificou nos produtos matéria-prima imprópria para o consumo humano, contaminada com a ocratoxina A, uma micotoxina produzida por fungos. Também foram identificadas impurezas (cascas e resíduos de café), denominadas erroneamente nas embalagens como polpa de café e café torrado e moído.
Quais marcas estão vendendo café fake?
Pingo Preto, produzido pela Jurerê Caffe Comércio de Alimentos Ltda;
Melissa, da DM Alimentos Ltda
Oficial, produzida pela Master Blends Indústria de Alimentos Ltda.
A DM Alimentos afirmou recentemente à imprensa que o produto “não é comercializado nem rotulado como café torrado e moído”, e usa uma “formulação alternativa legalmente permitida”. A Café Jurere também informou recentemente que o produto da marca Pingo Preto teve a produção encerrada em janeiro. A Master Blends não foi localizada pela reportagem até a publicação desta notícia.
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O que é café fake?
O café fake é o produto – como o próprio sugere – falso, simulado a partir de outros ingredientes, ou o que possui matérias impróprias para consumo, que podem liberar toxinas causadoras de doenças, como o câncer. Um desses componentes é “polpa de café”, porque ela existe na composição botânica da planta, porém tem um baixo rendimento e não é capaz de gerar o produto pronto para consumo. Especialistas afirmam que esse tipo de fraude aumenta em um cenário como o atual, de preços recordes.
“A polpa do café é um dos componentes do café fake, porque mistura à casca de café [queimada]. Inclusive, marcas que utilizam têm adicionado aromatizante, outro elemento proibido [para um café puro]”, explica o Hugo Caruso, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov), do Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa).
Ele conta que o órgão já identificou três marcas que comercializam café falso proveniente da carbonização das cascas, consideradas impróprias para consumo por lei. Até agora, o órgão não divulgou detalhes, porque segue nas investigações e análises.
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A norma que classifica a pureza do café a Instrução Normativa nº 16, de 2010, do Mapa. A diretriz define os limites de impurezas permitidos torrado e moído, incluindo a presença de cascas e paus. De acordo com o regulamento, se houver mais de 1% de impurezas (como cascas, paus ou outros materiais estranhos) , o produto é considerado impróprio para consumo.
Além disso, essa instrução normativa classifica o café com base na qualidade dos grãos, defeitos e teor de umidade, garantindo que o consumidor receba um produto dentro dos padrões de segurança alimentar e qualidade sensorial.
Polpa de café permanecido na moega de processamento
Divulgação/Abic
O que é mucilagem?
A mucilagem é que se encontra entre a casca e a semente do café e é sinônimo de polpa de café, na perspectiva fisiológica da planta, como lembra Caruso. É um processo de extração direta para tentar aproveitar um muco ou matéria-fibrosa que carrega o sabor do grão.
Porém, por ser quase impossível separar polpa da casca, não é viável economicamente gerar uma bebida à base da mucilagem do café. A remoção exigiria métodos – e equipamentos – complexos e custosos, envolvendo fermentação controlada, lavagem e secagem específica. Além disso, a quantidade de mucilagem extraída de cada grão é mínima, o que significa que seria necessário um grande volume de café para obter um pequeno volume de polpa.
“Existe a possibilidade de fazer um produto à base de mucilagem? Existe, mas isso custaria quanto? Caríssimo, porque o percentual de mucilagem que há no café é pequeno”, detalhou Caruso. A confusão está no fato de a polpa ser a segunda camada do grão de café, logo após a casca.
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É esta brecha que faz marcas utilizarem de forma enganosa o termo polpa de café em produtos fraudados. Por ser caro, o líquido extraído da mucilagem não seria uma matéria-prima barata a ponto de um pacote de café custar R$ 12,99, como se viu em propagandas na internet e estabelecimentos comerciais. Esses produtos eram café-fake.
“Esses estabelecimentos [investigados] estão infringindo a norma, por exemplo, por estarem processando o que não deveria estar sendo processado. Do ponto de vista do Dipov, esses cafés são adulterados”, acrescentou Caruso.
De outro lado, no procedimento correto de produção, a indústria utiliza métodos naturais ou fermentações durante o beneficiamento do grão para aproveitar indiretamente os compostos da mucilagem, resultando em cafés mais encorpados e aromáticos. Esse processo é mais sustentável e rentável do que tentar extrair a mucilagem separadamente para uso direto na bebida.
O termo “café fake” se popularizou nas últimas semanas justamente porque entidades do setor começaram a denunciar marcas que imitavam o visual do pacote do grão, condição principal para induzir o consumidor ao erro, segundo a assistência jurídica da Associação Brasileira de Indústrias de Café (Abic).
Outra característica é o valor, bem abaixo do mercado, ou ‘promocionais’ – e com o termo “polpa de café” na composição. Segundo a assessoria jurídica da Abic, há muitas categorias de fraude e muitas formas de apresentar uma bebida que não cumpre parâmetros legais e passa a ser um produto falso.
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“Todos esses produtos, independentemente da composição, querem atrair a atenção do consumidor para o que não é café de verdade”, afirmou o jurídico da Abic. Ele destacou que produtos impróprios para consumo tem alguma toxina causadora de riscos à saúde humana.
Embalagens que tinham nos slogans frases como “sabor café” ou “bebida tipo café” são alguns exemplos de produtos adulterados, alguns deles já denunciados pela Abic. Apesar de ter mesma coloração, têm aromatizantes, sem grãos arábica ou conilon.
Há marcas comercializando café fake sob o pretexto de que têm liberação de vigilância sanitária, o que está sendo investigado Pelo Ministério da Agricultura e outras autoridades. No entanto, é o Procon que fica responsável por julgar as infrações ao consumidor que possa ter comprado um produto falso, adulterado, ou que infringe alguma norma de qualidade da indústria.
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O que é a casca de café?
De acordo com a Abic, a casca do café é composta por casca seca (epicarpo), polpa (mesocarpo) e pergaminho (endocarpo), sendo o principal subproduto obtido durante o processamento a seco dos grãos. Representa cerca de 45% da baga inteira.
O que é a polpa de café?
Ainda conforme a associação, a polpa úmida do café cereja é composta de epicarpo (casca) e parte do mesocarpo (polpa). É o principal subproduto obtido durante o processamento via úmida dos grãos de café, que saem do despolpador com alto teor de umidade (90%). A polpa corresponde a 39 a 29% do peso seco da baga inteira.
“Sua composição, devido aos seus compostos bioativos, como cafeína e taninos, contaminação por micotoxinas e detecção microbiana pode representar um problema de segurança”, segundo estudo de 2020 utilizado pela Abic.
A polpa pode servir como matéria-prima para ração animal, biogás, bioetanol, substrato para cogumelos, compostagem, sólidos da polpa do café para silagem, compostos orgânicos, enzimas e outros ácidos.
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