Especialistas detalham a estação que começa nesta sexta-feira no Hemisfério Sul O frio marcou a transição entre os meses de maio e junho pela atuação de uma onda polar intensa em quatro das cinco regiões brasileiras. Em cidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, por exemplo, além de temperaturas negativas, a neve encantou moradores e turistas que viajaram quilômetros para conferir os flocos brancos cobrindo a vegetação.
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Mas, apesar da ocorrência desses fenômenos meteorológicos e característicos do inverno há semanas, a estação mais fria do ano começa oficialmente nesta sexta-feira (20/6), às 23h42 (de Brasília).
A queda nas temperaturas no país aconteceu de forma gradativa durante o outono e vai se intensificar a partir de agora.
“Notamos isso antes do início oficial do inverno. Então, não significa que só a partir de tal dia teremos mudanças nas condições do clima. Elas acontecem gradualmente. E não é apenas com o inverno, mas em todas as estações. A mudança para a chegada do inverno já vinha acontecendo antes da data astronômica”, destaca o meteorologista Willians Bini.
Em 2025, o inverno permanece ativo até 22 de setembro, às 15h19 (de Brasília), quando abre espaço para a primavera, depois de 94 dias.
As características do inverno
A estação é conhecida pelo frio e também por episódios de geada, neve e chuva congelada, mas esses fenômenos não acontecem em todos os Estados. O motivo é a extensão territorial do Brasil, com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados.
No Norte e Nordeste, regiões próximas à Linha do Equador, a incidência mais direta e intensa dos raios solares mantém as temperaturas elevadas. Enquanto no Sul e Sudeste, distantes da linha imaginária que divide os hemisférios, o inverno é seguido à risca.
Veja as principais características da nova estação:
Amplitude térmica (diferença entre a temperatura mínima e a máxima);
Formação de geadas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul);
Neve nas áreas mais altas do Sul;
Formação de nevoeiros;
Redução da chuva no Sudeste, Centro-Oeste e em partes do Norte e do Nordeste;
Pouca umidade;
Mais volumes de chuva no Norte (área no noroeste), Nordeste (área no leste) e parte do Sul (Rio Grande do Sul e Santa Catarina);
Menor incidência de radiação solar;
Episódios de friagem no Mato Grosso, Rondônia, Acre e Amazonas.
Na noite desta sexta-feira (20/6), junto com o início da estação, também acontece o solstício de inverno, onde o sol atinge a maior distância angular em relação à Linha do Equador. Pela pouca luminosidade, o dia fica mais curto e a noite, a mais longa do ano.
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O que esperar do inverno em 2025?
Os especialistas ouvidos pela Globo Rural destacam que a estação será mais fria que em 2024 e 2023. Uma das explicações é a ausência tanto do El Niño como do La Niña influenciando o clima. Isso porque, o período de neutralidade, em ação neste momento, permite a entrada de mais massas de ar continentais no Brasil.
Desta forma, a sazonalidade da estação permanece, independente de fenômenos ou mudanças no clima, diz Bini.
“Podemos ter uma semana mais quente ou uma semana mais úmida, mas, em geral, o inverno vai ser, de fato, mais seco e mais frio. Tem a possibilidade de mais geadas e de um frio intenso, condição propícia para eventos por conta da condição de neutralidade. Durante o inverno, sempre temos a penetração de massas de ar frio, mas o que aconteceu no passado é que o inverno foi mais quente pela presença do El Niño, enquanto a neutralidade tem outra característica”.
Ludmila Camparotto, agrometeorologista da Rural Clima, completa que as massas de ar polar podem se estender e derrubar as temperaturas até o início da primavera.
“A gente deve seguir com o clima de neutralidade com viés negativo, talvez, durante o inverno, e isso faz com que realmente tenhamos possibilidade da entrada de massas de ar um pouco mais frequentes, sendo que uma ou outra podem ser mais intensas”.
Veja como fica o clima em cada região:
Sul
Precipitação: a tendência é de volumes acima da média durante o inverno, principalmente, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina nos meses de agosto e setembro, afirma a agrometeorologista. No Paraná, a chuva marca presença, mas deve ficar abaixo da média. “Isso não quer dizer que será ruim para a agricultura, pois vai depender muito mais da distribuição”.
Temperatura: as áreas mais altas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul podem registrar geada e até neve por causa da atuação de massas de ar de origem polar.
Sudeste
Precipitação: conforme a previsão do tempo, a estação será um pouco mais úmida do que o habitual, ou seja, o período de seca, característico do inverno, não deve ser tão prolongado. O mês de julho é o mais seco, enquanto agosto e setembro têm condições de mais chuva na parte leste.
Temperatura: a maior parte da região terá temperaturas acima da média, mas a proximidade com o Sul permite a entrada de massas de ar frio e geada em áreas mais altas e isoladas.
Centro-Oeste
Precipitação: a condição é muito semelhante ao Sudeste, com o mês de julho mais seco. Já agosto e setembro vão registrar volumes mais altos de chuva.
Temperatura: em razão da permanência de massas de ar seco e quente, a tendência é de temperaturas acima da média, diz o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Nordeste
Precipitação: a chuva marca presença em julho, agosto e setembro, mas de uma maneira geral, com volumes abaixo da média. A faixa litorânea, com destaque para Bahia e Sergipe, pode registrar mais precipitação, enquanto a tendência para o interior é próxima à normalidade. “É um ano que deve chover um pouco menos no inverno”, finaliza Ludmilla.
Temperatura: a região deve registrar temperaturas acima da média em todos os Estados, com destaque para o Maranhão.
Norte
Precipitação: a tendência é que a chuva seja relativamente abaixo da média no inverno em grande parte da região Norte. Áreas de Roraima, Amapá e Pará podem ter mais chuva em julho, mas, aos poucos, os volumes ficam irregulares. Em Rondônia, julho será mais seco, assim como no Acre.
Temperatura: a previsão mostra que deve ficar acima da média em grande parte da região. No entanto, episódios de friagem não são descartados.
Olho na agricultura
Apesar da previsão indicar um inverno mais frio que os anteriores, a condição não deve causar impactos na agricultura em 2025. Desirée Brandt, sócia-executiva e meteorologista da Nottus, explica que a safra irá transcorrer sem surpresas na maioria das regiões produtoras.
“Com o inverno sob a vigência de um período de neutralidade climática, em que não vigoram os efeitos do La Niña e nem do El Niño, a expectativa é que não tenhamos grandes prejuízos. Também não é esperado o quadro de queimadas registrado no ano passado e que provocou diversos transtornos aos produtores rurais”, detalha.
Em relação às geadas, fenômeno meteorológico caracterizado pela formação de uma camada de gelo sobre superfícies expostas, a maior preocupação é com as lavouras de café, principalmente, no Paraná, Minas Gerais e São Paulo.
Após safras prejudicadas por problemas climáticos, o Brasil, maior produtor do grão no mundo, viu o preço do produto aumentar mais de 80% nos últimos 12 meses e espera uma boa colheita para abastecer o mercado interno e também externo.
A boa notícia é que, até o momento, os modelos climáticos não apontam riscos.
“O grande ponto de atenção para as situações de geada e que seria mais trágico e traumático é nas regiões cafeeiras. Ainda estamos pagando o preço da geada de 2021. Ela causou uma série de problemas e foi um efeito dominó que prejudicou as safras seguintes”, finaliza Willians Bini.