
Raça possui habilidade para monitorar gado e exerce as funções de cão de caça e guarda Patrimônio histórico-cultural do Nordeste do Brasil e elemento da memória coletiva sobre acaça de subsistência na região e a lida com o gado na Caatinga, a raça canina boca-preta-sertanejo virou uma ótima escolha para auxílio no pastoreio também em outras partes do país, já que ela tem características ideais para o apoio a trabalhos no campo. Considerado inteligente e dócil, o cão demonstra dedicação em aprender comandos com rapidez e cumprir a rotina diária de ordens. Hoje, é possível encontrá-lo também nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste.
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No interior do país, criadores que já conhecem o potencial e o vigor do boca-preta na execução de diferentes tarefas em propriedades rurais sabem que o manejo da raça é investimento certo para se conseguir vendas lucrativas – e também que a atividade não tem custo alto nem exige muito espaço. Com um canil – que se pode construir até em área ociosa de um quintal e com materiais baratos – e cuidados que assegurem a saúde da criação, o empreendimento pode ser um meio de incrementar o orçamento.
Conhecido pela resistência e rusticidade, o boca-preta nordestino é forte e tem compleição física esguia e atlética. Os exemplares da raça são capazes de mobilizar bovinos apenas abocanhando o focinho dos animais. Além disso, como esperam os vaqueiros, são destemidos para fuçar mata adentro quando precisam achar o desgarrado do rebanho e devolvê-lo ao grupo.
Para além da habilidade de monitorar gado, caprinos, ovinos e outros coletivos, o boca-preta nordestino também exerce as funções de cão de caça e guarda de lavouras e de pequenos cercados, como os de galinhas e de porcos, contra predadores. Ele pode ser, inclusive, uma ótima alternativa de vigia de imóveis em áreas urbanas. Com o instinto de companheiro e a lealdade típica dos cachorros e a docilidade característica da raça, ele também é boa opção para conviver com famílias com ou sem crianças.
Não há relatos de utilização do boca-preta como cão de resgate, rastreio de drogas e guia. Mas, como o animal tem faro aguçado e é obstinado no que faz, não falta à raça capacidade para assumir funções ao lado de policiais, bombeiros e profissionais de segurança ou para ser acompanhante de pessoas com deficiência visual.
Selecionado ao longo de séculos pelos antigos povos dos sertões do Nordeste do país, o boca-preta tem pelos curtos e lisos, em cor clara (esbranquiçada) e também preta, preta com barriga branca, vermelha e marrom rajado de preto e caramelo. A coloração preta, que se estende da boca até a área dos olhos, passando pelo focinho fino e comprido, inspirou o nome do cão – que, segundo estudos recentes, descende, provavelmente, de caninos criados por indígenas.
Na literatura, as primeiras descrições da raça foram de autoria de padres capuchinhos, que, em viagens pela antiga província do Maranhão, registraram que o animal tinha semelhanças com o cão podengo português. O trabalho de identificação e preservação do boca-preta começou a partir de um estudo fenotípico que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) fez em 2011.
Mãos à obra
Início: Na hora de comprar matrizes e reprodutores, analise as condições dos cães para identificar se eles estão vivazes e alertas – e faça a aquisição necessariamente em criatórios que tenham boas referências. Como padrão, os animais costumam ter olhos marrons, orelhas pontiagudas e levantadas e cauda em forma de bengala. Além disso, é comum que tenham um sinal em cada lado da cabeça. Em geral, o corpo do cão tem de 46 a 58 centímetros de comprimento – maior do que a altura das pernas –, com peito profundo e abdome recolhido. Como se trata de um animal que, ao longo de muitos anos, desenvolveu-se pisando em tocos, espinhos e pedras, ele tem patas com almofadas grossas, calejadas. A raça tem registro na Sociedade Brasileira de Cinofilia (Sobraci) e no América Latina Kennel Clube (ALKC).
Ambiente: Por ter se desenvolvido em áreas quentes, secas e de vegetação escassa, composta principalmente por arbustos baixos, gramíneas, cactos e árvores caducifólias, o boca-preta é um animal com boa capacidade de adaptação. Ele vive bem até em instalações rústicas e é capaz de suportar altas temperaturas.
Canil: Para construir o canil, calcule, inicialmente, quantas baias – individuais ou capazes de acomodar dois cachorros de grande porte – será possível instalar na área que tiver disponível. Uma ao lado da outra e separadas por um muro, cada baia deverá ter 4 metros de comprimento por 2 metros de largura. Para que os tratadores possam circular no espaço, a altura mínima também terá que ser de 2 metros. Construa os cômodos em alvenaria, com estrutura robusta e que facilite a limpeza. As estruturas precisam incluir um abrigo coberto de um metro quadrado, que servirá para o cão se proteger de alguma intempérie, e um solário. O banho de sol, sobretudo durante a manhã, é importante para a saúde dos caninos. Programe também ações de desinfecção do local. Para esse trabalho, é preciso instalar, em um canto do piso, um sistema de ralo, por onde a água vai escoar.
Alimentação: No varejo, é possível encontrar rações balanceadas para cães em diferentes fases de vida. Compre as de boa qualidade e forneça a quantidade e o número de refeições que o fabricante indica na embalagem. Utilize um bebedouro adequado para oferecer ao animal água potável e fresca à vontade.
Reprodução: Como a fêmea precisa alimentar a cria nos primeiros meses de vida, recomenda-se que se faça apenas uma ninhada por ano. Em cada parto, nascem, em média, seis filhotes.
Criação mínima: É possível começar comum casal para só depois comprar mais animais. No entanto, o ideal é dar início aos trabalhos com quatro fêmeas e dois machos. Para evitar consanguinidade, os cães não podem ter grau de parentesco.
Custo: O preço por exemplar fica na faixa entre R$ 500 e R$ 2.000.
Retorno: Se o empreendimento começar com casais adultos, a partir do segundo ano haverá filhotes para venda.
Reprodução: Um acasalamento por ano, que gera seis filhotes por fêmea
Consultoria: Marcos Jacob de Oliveira Almeida, biólogo, doutor na área de conservação e utilização de recursos genéticos locais, pesquisador na área de transferência de tecnologias da Embrapa Meio-Norte. Avenida Duque de Caxias, 5650, bairro Buenos Aires, Teresina (PI), CEP 64008-780, Tel. (86) 3200-1300, www.embrapa.br/fale-conosco/sac.