
Conhecida por suas aplicações industriais, como a extração do óleo de rícino, a mamona representa um risco para áreas agrícolas. Além de se comportar como uma planta daninha em várias culturas, é considerada uma semente tóxica, comprometendo a comercialização dos grãos e exigindo rebeneficiamento da carga.
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“A presença da mamona causa perdas na lavoura, custo adicional para o produtor e demora no processo. Para evitar que isso aconteça, recomendamos que os cuidados comecem no campo”, ressalta Ana Paula Kowalski, coordenadora da área técnica do Sistema Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), em entrevista à Globo Rural.
Ana Paula chama a atenção para o Manejo Integrado de Plantas Daninhas (MIPD), que pode resultar numa economia significativa para o produtor, inclusive com despesas com herbicidas. Por meio do MIPD, segundo ela, é possível monitorar a plantação e manejar as plantas daninhas de maneira racional e eficaz.
“Isso vale não só para o controle da mamona, mas de qualquer planta daninha. Deve ser realizado o manejo integrado com monitoramento e controle efetivo a campo, avaliando o que é mais adequado ao momento do produtor e ao estágio da planta daninha”, explica.
No caso da mamona, ela alerta que é importante evitar que a planta passe do estágio vegetativo, pois quando floresce, a dispersão fica mais difícil de ser controlada.
Conforme Edison Baldan Junior, engenheiro agrônomo e consultor no manejo de plantas daninhas, no campo a mamona rouba a produtividade, interfere na qualidade da matéria-prima e atrapalha a mecanização na colheita.
“O problema vai além da competição por água, luz e nutrientes. A planta se transforma em arbusto, tornando-se um obstáculo físico para as colhedoras, o que dificulta tanto os tratos culturais quanto a colheita”, explica. Ele alerta que a mamona pode causar prejuízos como quebrar o pára-brisa da máquina, furar pneus e danificar o sistema de alimentação das colhedoras.
Manejo
De acordo com Ana Paula, o manejo pré-emergente é o mais recomendado, uma vez que o controle tem início mesmo antes da planta daninha emergir. Ela também indica o manejo conjunto nas etapas pré e pós-emergente para um controle mais efetivo.
Outro aspecto ressaltado é ficar atento à limpeza do maquinário utilizado na lavoura: “as máquinas podem disseminar a mamona de um talhão para outro ou até de uma propriedade a outra”. Isso ocorre porque podem ficar acumulados nos equipamentos porções de solo, restos de culturas, partes e sementes das plantas daninhas.
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O alerta vale principalmente para produtores que terceirizam o serviço, uma vez que esse tipo de contaminação está entre os maiores fatores de disseminação.
Ela também recomenda atenção redobrada às bordaduras das lavouras, tendo em vista que durante o amadurecimento dos pés de mamona, as sementes podem se espalhar e cair em caminhões carregados com grãos. Outro detalhe é que a semente tem tamanho semelhante ao grão de milho, o que facilita a sua passagem por peneiras e aumenta o risco de contaminação.
Rotação
Segundo Baldan, o combate à mamona exige um trabalho contínuo e o uso de múltiplas estratégias de controle, já que essa planta daninha possui sementes com grande reserva energética e capacidade de germinar em diferentes profundidades do solo.
A rotação e consorciação de culturas também ajudam, pois a alternância de espécies no solo quebra o ciclo de germinação da mamona, diminuindo sua incidência.
“Não existe um produto milagroso ou uma única aplicação. É um trabalho contínuo de manejo. É preciso fazer o mapeamento da área, aplicar herbicidas pré e pós-emergentes e, depois, reaplicações pontuais, geralmente após 180 dias. Do contrário, ela volta”, explica o agrônomo. “O maior problema é a falta de conhecimento sobre produtos mais específicos e a importância da reaplicação”, alerta.
Impacto
Além da capacidade da mamona se estabelecer em diferentes ambientes e competir com outras espécies vegetais, a rápida disseminação e o potencial tóxico das sementes preocupa produtores rurais. De acordo com o Sistema Faep, a planta daninha vem causando impactos econômicos significativos.
“A mamona, embora tenha utilidades industriais, representa um sério risco econômico para as lavouras e para a comercialização de grãos. Precisamos reforçar a orientação técnica para evitar que essa planta cause prejuízos ainda maiores aos nossos agricultores”, destaca Ágide Eduardo Meneguette, presidente interino do Sistema Faep.
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No Paraná, a Faep lembra que o problema costuma estar associado ao uso da torta de mamona como adubo orgânico, prática bastante comum no passado, especialmente em antigos cafezais das regiões Norte e Norte Pioneiro. Essa torta carrega sementes tóxicas que acabam germinando após serem incorporadas ao solo, espalhando a planta invasora e provocando infestações.
“Esse deve ser um foco de atenção, uma vez que a maioria das áreas de café dessas regiões migraram para a produção de grãos. Essas sementes, consideradas tóxicas, não têm qualquer nível de tolerância previsto nas normas de classificação”, reforça Ana Paula.
A engenheira agrônoma Ivonete Rasêra, classificadora e responsável pelo treinamento dos instrutores dos cursos de classificação de grãos do Sistema Faep, adverte que caso sejam encontradas sementes de mamona durante a classificação, toda a carga é devolvida para rebeneficiamento.
“Às vezes, as empresas responsáveis pelo recebimento fazem esse processo, mas repassam o custo ao produtor”, afirma. E completa: “temos relatos de cargas que chegaram ao Porto de Paranaguá para exportação e foram recusadas. Assim, o produto retorna para o beneficiamento, gerando ainda despesas com o transporte de volta”.
Curso
O Sistema Faep tem em seu portfólio um curso gratuito sobre o Manejo Integrado de Plantas Daninhas, voltado a repassar técnicas de monitoramento e práticas de campo. Interessados devem procurar os sindicatos rurais no Paraná para a efetivação da formação na região.






