Redução do volume de chuvas intensificou o sabor da safra deste ano Cultura agrícola típica de regiões de baixas temperaturas, a maçã acaba servindo como uma espécie de referência do quadro climático de cada ano. Se a umidade foi escassa ou em excesso, ou se frio foi suficiente ou não, os pomares vão deixar isso claro, entregando uma colheita vistosa ou decepcionante.
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Em 2025, a maçã brasileira deverá entrar para a história – e não por causa do volume de produção, mas graças à qualidade dos frutos. Produtores e representantes garantem que poucas vezes se colheu maçãs tão doces quanto neste ano, um resultado que só foi possível devido a uma certa “trégua do clima” durante o desenvolvimento das frutas.
Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), o país encerrará a temporada com colheita de 850 mil toneladas, o que representará leve alta, de 2,16% em relação à produção de 2024, de 832 mil toneladas. Não se trata de um grande volume — na maior colheita até hoje, de 2017, a produção chegou a 1,35 milhão de toneladas —, mas agricultores e especialistas definem a safra deste ano como uma das melhores.
“Se nós pudéssemos definir essa safra em uma única palavra, seria qualidade. Essa é uma das safras de melhor qualidade de nossa história”, diz Moisés Lopes de Albuquerque, diretor-executivo da ABPM.
Segundo o dirigente, a diminuição do volume de chuvas em momentos decisivos teve reflexo direto sobre o sabor das maçãs. Com menos umidade, as frutas ficaram mais firmes e com sabor mais concentrado.
As condições climáticas foram bastante favoráveis já no período da florada, contribuindo para o trabalho de polinização das abelhas. A redução da umidade afetou o crescimento dos frutos, que ficaram com dimensões um pouco abaixo da média, mas esse quadro fez com que as maçãs ganhassem um nível de doçura (ou “brix”, segundo a terminologia dos produtores) muito superior à média.
“O clima nos entregou um fruto com uma qualidade gustativa extraordinária, com brix maior e marcado pela acidez, como é a característica da maçã brasileira. Por isso, nos próximos meses, o consumidor brasileiro vai continuar encontrando nas gôndolas dos supermercados um produto de excelência”, afirmou Albuquerque.
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com pouco mais de 48% cada um, são os dois estados que dominam a produção brasileira de maçã. O Paraná responde por 2% a 3% do total, e São Paulo e Minas Gerais dividem o restante.
Condições climáticas foram favoráveis para o sabor da maçã
Wenderson Araújo / CNA
A Rasip Agro, de Vacaria (RS), braço do grupo RAR Agro & Indústria, atende 8% do mercado brasileiro de maçãs. Nesta safra, a empresa colheu 45 mil toneladas em 1,35 mil hectares, a maioria da variedade Gala. Esse volume ficou abaixo da média anual, que costuma ser de 55 mil a 60 mil toneladas.
A queda foi consequência do excesso de chuvas e do tempo mais quente do que o normal durante o outono e o inverno de 2024, que fez com que as macieiras tivessem uma brotação mais lenta e frutas menores.
No entanto, o clima durante o verão contribuiu para acentuar o sabor dos frutos, explica Celso Zancan, diretor de Fruticultura da Rasip Agro. “Quando chegou a colheita, o tempo estava quente e seco, o que reduziu a ocorrência de doenças fúngicas e aumentou o brix da fruta”, diz. Segundo ele, em termos de sabor, essa foi uma das melhores safras da Rasip, empresa que iniciou suas operações em 1979.
A Cooperativa Agrícola Frutas de Ouro, de São Joaquim (SC), também comemora a qualidade da fruta em 2025. “A maçã está mais lisa, com um aspecto melhor, e muito mais doce”, descreve Marciano Marques Bittencourt, produtor de maçãs e diretor comercial da cooperativa. “Quando chove muito perto da colheita, a árvore absorve a água, o que dilui o açúcar na fruta. Neste ano, com o tempo mais seco, as maçãs estão com um sabor ótimo.”
Com 38 cooperados, a maioria pequenos produtores com uma média de cinco hectares de pomares, a Frutas de Ouro colheu nesta safra 8,5 mil toneladas de maçãs em 210 hectares, o que representou uma queda de 5% em relação a 2024. No entanto, a diminuição do volume tem sido compensada pelo ganho de qualidade. “O calibre da fruta também está melhor”, destaca Bittencourt.
Segundo a ABPM, atualmente, cada brasileiro consome, em média, 4,7 quilos de maçãs por ano. Para a indústria, há potencial para crescimento. Para efeito de comparação, na Europa, o consumo per capita é de 14 quilos ao ano, e na China, de 27 quilos.
Para estimular o consumo no Brasil, a ABPM tenta destacar a importância da maçã com uma aliada da saúde. Rica em fibras, vitaminas e antioxidantes, a fruta auxilia na digestão, na regulação do colesterol e na prevenção de doenças cardiovasculares. O consumo regular do fruto também está associado à melhora da imunidade e à redução de inflamações, conta o presidente da ABPM, Francisco Schio.
“A maçã é uma fruta completa. Além de saborosa, traz inúmeros benefícios à saúde, sendo indicada para todas as idades. É um alimento funcional, que deve estar presente no dia a dia do brasileiro”, reforça o dirigente.