Grupo Telesgest investe em diversificação com lavouras de grãos e criação de animais Um negócio verticalizado, que vai desde a produção dos grãos que alimentam suínos e bovinos até o abate e distribuição das marcas próprias de carnes ao consumidor final, e que tem rendido preços e margens acima daqueles recebidos pelos produtores do Brasil. Essa é a realidade do Grupo Telesgest, maior produtor agropecuário de Angola.
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Com demanda alta e constante no país, não há estoque. Tudo o que se produz é vendido rapidamente para consumo interno. Os próximos planos são iniciar a criação de 5,2 milhões de frangos de corte e o cultivo de café, este último de olho nas exportações.
Uma das propriedades do grupo é a Fazenda Capeca, em Camabatela, na província de Kwanza Norte, a cerca de 300 quilômetros da capital Luanda. O foco é a produção de proteína animal. São 2,5 mil matrizes de suínos, que produzem dez mil toneladas de carne por ano nos três abatedouros próprios do grupo. Outra planta, para abate dos frangos, ficará pronta até 2026.
A ração que alimenta os suínos e as 20 mil cabeças de gado da fazenda, que vão a confinamento na fase de engorda, é de produção própria. Em dois mil hectares são cultivados o milho, que é processado na fábrica do grupo e também vira fubá para consumo humano. A soja vira farelo para o cocho dos bovinos e óleo, que é envasado e vendido nos mercados locais.
A Fazenda Capeca está a 1,2 mil metros de altitude, tem 20 mil hectares e um regjme de chuvas de 1,5 mil milímetros por ano. Boa parte da propriedade é ocupada por pastagens permanentes para o rebanho bovino.
Ao todo, o grupo tem 160 mil hectares produtivos, com propriedades em várias partes do país. A companhia pertence a Fernando Teles, dono do Banco PIC, uma instituição financeira com atuação nacional em Angola.
“Estamos no bom caminho. Angola ainda não é autossuficiente. Pensamos em satisfazer as primeiras necessidades da população, por isso o foco é a cesta básica ainda”, disse Nuno Jorge Paulo, empresário de nacionalidades portuguesa e angolana, que dirige a Capeca.
Nuno Jorge Paulo: “Pensamos em, primeiro, satisfazer as necessidades da população, por isso o foco é a cesta básica ainda”
Rafael Walendorff
“Não temos problemas de estoque. Existem períodos normais de melhores preço, mas tudo que produzimos é vendido. Temos é que crescer em todas as frentes”, afirmou.
Custos e preços
Os valores atuais recebidos pelos animais estão atrativos. São US$ 6,5 pelo quilo de bovino equivalente carcaça, algo próximo de R$ 500 por arroba. No Brasil, a cotação está abaixo dos R$ 400.
Já no caso do suíno, o preço recebido pelo produtor está em US$ 4,5 por quilo de carcaça, mais do que o dobro dos US$ 2 pagos aos criadores do Brasil em média, disse Tarcísio Sachetti, que é suinocultor em Mato Grosso.
Nuno diz que o custo é maior, mas os brasileiros que visitaram a propriedade discordam. “Mesmo que tenha um custo maior, ele é compensado na margem, que também é o dobro da brasileira”, afirmou Sachetti.
Angola ainda importa carne suína. “Se tivermos 20 fazendas com essa capacidade talvez consigamos suprir a demanda interna”, projetou Nuno.
Investimentos
O recado do maior grupo de agronegócio de Angola aos produtores brasileiros que visitaram uma das suas propriedades é claro: o ambiente institucional e de negócios é propício para novos investimentos no país.
Ele fez um chamado aos produtores brasileiros. O grupo tem interesse em parcerias para a produção de soja. “Temos imensa terra para soja. Com a situação no mundo, é importante fazer soja cada vez mais”, disse.
“Temos apoio de nível institucional e temos um ambiente de negócios interessante no agro, pois temos mercado”, acrescentou. Além do consumo interno em Angola, que já demanda toda a produção e vai crescer ainda mais, Nuno ressaltou que há “milhões de pessoas nos países africanos vizinhos”, como a República Democrática do Congo, cuja população passa de 100 milhões de habitantes.
Além disso, o empresário ressaltou a relação estreita que as propriedades do grupo – e a agropecuária angolana no geral – têm com o Brasil.
“Todas as sementes de milho e soja vêm do Brasil. Muito equipamento é de lá (…) São paralelos semelhantes. climas semelhantes, em termos de adaptabilidade de semente estamos bem”, destacou.
Técnicos e consultores que prestam sérios ao grupo também são brasileiros. Os silos que estão em montagem na Capeca vieram do Brasil. “A interligação é muito forte e tem surtido efeito”.
*O jornalista viajou a convite do Mapa