
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) analisou 239 estudos publicados entre 1969 e 2022, com auxílio de inteligência artificial, para mapear como a pesquisa agrícola tem gerado impacto ao longo do tempo. O objetivo é mostrar a evolução metodológica dessas análises e sugerir caminhos para alinhar ciência, sustentabilidade e segurança alimentar.
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A análise identificou seis grandes grupos temáticos. São eles: economia e desenvolvimento agrícola, com 49 estudos; inovação e desempenho tecnológico, com 37; segurança alimentar e mudanças climáticas, com 33; gestão de recursos e desenvolvimento sustentável, com 31; impactos sociais e transformações institucionais, com 47; e adoção de tecnologias e práticas sustentáveis, com 42.
As projeções indicam que, até 2030, adoção de práticas sustentáveis (+233%), gestão de recursos (+122%) e impactos sociais e institucionais (+59%) devem crescer acima da média. Já inovação tecnológica (+51%) e segurança alimentar (+22%) vão avançar em ritmo moderado, mas ainda relevante para os desafios globais.
O estudo mostrou que as avaliações de impacto acompanharam os ciclos da agricultura mundial. Nos anos 1950 e 1960, o destaque foi a mensuração econômica das inovações trazidas pela Revolução Verde. A partir dos anos 1970, surgiram preocupações ambientais e sociais.
Nos anos 1990 e 2000, avaliações qualitativas e participativas passaram a incluir questões de gênero e equidade, enquanto na década seguinte ganharam espaço abordagens sistêmicas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Mais recentemente, big data e tecnologias digitais começaram a ser incorporados.
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Apesar dos avanços, a Embrapa destacou lacunas como poucas avaliações sobre culturas fundamentais para a segurança alimentar global, como arroz, trigo, batata e inhame.
Segundo a analista da Embrapa Territorial e uma das pesquisadoras do levantamento, Daniela Maciel Pinto, a pesquisa estruturou um dicionário com 103 métodos e técnicas aplicados em avaliação de impacto, que pode servir como guia prático para pesquisadores, avaliadores e formuladores de políticas.
Inteligência artificial como aliada
O diferencial da pesquisa foi o uso de técnicas de processamento de linguagem natural (PLN) para analisar todos os estudos em quase seis décadas, como tokenização, análise de bigramas e modelagem de tópicos. Segundo a Embrapa, esse processo possibilitou identificar padrões que poderiam passar despercebidos em análises convencionais.
De acordo com a Embrapa, propriedades que já adotam modelos preditivos baseados em inteligência artificial alcançam ganhos de até 22% na produtividade e reduzem em 30% o desperdício de água.
“Estamos diante de uma nova fronteira agrícola, onde dados valem mais do que hectares. Quem souber interpretá-los vai produzir mais, gastar menos e se adaptar melhor às mudanças climáticas”, avalia Douglas Torres, especialista em automação inteligente.
Para Torres, o crescimento previsto de 233% no uso de IA em práticas sustentáveis é um recado. “O agro brasileiro que quiser acessar mercados internacionais precisará provar impacto ambiental positivo e só a IA conseguirá entregar essa rastreabilidade em escala”.