
O animal, que representou o hipismo do Brasil nas Olimpíadas de Paris, não resistiu às complicações de um quadro grave de cólica A morte da égua Miss Blue Mystic Rose, que representou o hipismo do Brasil nas Olimpíadas de Paris, causou comoção no meio equestre brasileiro e trouxe uma das preocupações de criadores e veterinários: a cólica equina. O animal da raça brasileira de hipismo, mesmo com acompanhamento veterinário, não resistiu às complicações de um quadro grave de cólica.
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Em entrevista à Globo Rural, o médico veterinário Fernando Gonzalez explica que a causa da cólica é uma condição multifatorial, que vai desde o manejo alimentar até alterações anatômicas do trato digestivo — especialmente no intestino grosso, onde ficam o ceco e o cólon, estruturas que, por sua mobilidade, podem sofrer deslocamentos ou torções.
“O tempo entre o início dos sintomas e a intervenção é determinante para o prognóstico”, alerta.
O que é cólica em cavalos
De acordo com o veterinário, a cólica equina não é uma doença única, mas um termo genérico para qualquer dor abdominal em cavalos. Essa dor pode ter origens variadas: desde gases acumulados no intestino até deslocamentos ou torções graves que exigem cirurgia imediata.
Um estudo publicado pela Revista Brasileira de Ciência Veterinária afirma que a cólica é considerada a principal causa de morte não infecciosa em equinos. A revisão aponta que entre 4% e 10% dos cavalos, mesmo sob bom manejo, podem apresentar episódios de cólica por ano. Desses, cerca de 5% a 10% evoluem para casos cirúrgicos, com mortalidade que pode ultrapassar 30% nos quadros mais graves.
O veterinário explica que a cólica é uma condição que pode envolver alguns fatores como:
Alimentação inadequada
O excesso de concentrados (ração rica em amido) e a baixa oferta de fibra (feno ou pasto) favorecem fermentações anormais, produzindo gases e aumentando o risco de distensões e deslocamentos intestinais. Falta de água ou acesso irregular eleva o risco de impactações.
Mudanças bruscas na dieta
Transições rápidas na alimentação desequilibram a microbiota intestinal, causando gases ou alterações de motilidade. Mudanças devem ser feitas de forma gradual, em 7 a 14 dias.
Infestação por vermes intestinais
Verminoses, como as causadas por *Strongylus vulgaris*, podem provocar inflamação, trombose e necrose de segmentos intestinais. Programas de vermifugação estratégica são fundamentais para reduzir esse risco (Peiró et al., 2012).
Ingestão de areia ou corpos estranhos
Cavalos mantidos em áreas arenosas ou mal manejadas podem ingerir areia junto com o alimento, levando a irritação, inflamação e obstruções intestinais.
Problemas dentários
Dentes com pontas irregulares ou desgastes desuniformes dificultam a mastigação correta, aumentando o risco de impactações intestinais.
Estresse e sedentarismo
Cavalos sem exercício regular apresentam motilidade intestinal reduzida. Além disso, o estresse crônico pode afetar negativamente a saúde digestiva.
Alterações anatômicas
Após o intestino delgado, o alimento passa para o intestino grosso, onde se localizam o ceco e os cólons, com suas diferentes porções (“folhas”). Essa parte volumosa e altamente móvel do trato gastrointestinal é particularmente propensa a deslocamentos, impactações ou torções — condições que frequentemente requerem cirurgia de emergência.
Fernando destaca que a chave para o sucesso no tratamento é reconhecer os sinais clínicos o mais cedo possível.
Inquietação – O cavalo anda sem parar, deita e levanta repetidamente ou tenta rolar para aliviar a dor.
Chutes no abdômen ou autotraumatismo – Tentativas de morder ou chutar o flanco.
Sudorese intensa– Suor abundante mesmo sem esforço físico.
Falta de apetite e ausência de fezes – A paralisação do trânsito intestinal é um sinal de alerta importante.
Respiração acelerada e mucosas pálidas ou congestionadas
Como prevenir a cólica equina
A melhor forma de reduzir o risco de cólica é investir em manejo nutricional e sanitário cuidadoso. Algumas recomendações incluem:
Oferecer dieta com alto teor de fibra (feno ou pasto) e fracionar o concentrado em várias refeições ao dia.
Garantir acesso constante a água limpa e fresca.
Fazer mudanças alimentares de forma gradual.
Realizar programas regulares de vermifugação com orientação veterinária.
Avaliar e corrigir problemas dentários periodicamente.
Garantir exercícios diários ou pastagem para estimular a motilidade intestinal.