
No Matopiba, a falta de chuva e até mesmo o excesso dela está dificultando o andamento do plantio da soja. No Tocantins, os produtores reclamam da falta de volumes mais expressivos no solo. Municípios como Talismã e Araguaçu, no sul do Estado, monitoram o clima e não descartam a instauração de situação de emergência. “De 40 mil hectares de área de soja, não temos 15% plantados”, adverte João Carlos Lopes, coordenador da Defesa Civil de Talismã.
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Segundo ele, a chuva do início da semana não foi suficiente para amenizar os efeitos da estiagem. Foram dez dias de seca e o total de precipitações em novembro, conforme registros do órgão, não passou de 108 milímetros. “Precisamos de pelo menos 80 milímetros de chuva seguidos para ter umidade no solo”, afirma.
Lopes salienta que, além de inviabilizar o plantio, a falta de chuva compromete a planta que já estava semeada. Em vários pontos visitados, ele identificou situações de replantio devido à falha na germinação e emergência das plantas, causadas pela falta de umidade no solo e, ainda, morte de plantas que emergiram, mas amarelaram e morreram. “A soja não está nascendo porque não teve chuva”, reforça. Também foi observada a redução no volume de água de represas, riachos e rios da região.
César Vladir Alles, engenheiro agrônomo responsável por uma propriedade de 8 mil hectares destinados à soja em Talismã, conta que 40% da área ainda não foi plantada. “Já são seis dias parados, aguardando a chuva para concluir o plantio”, completa.
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Alles ressalta que a consequência do atraso do plantio na janela ideal — em novembro — é a redução da produtividade. “A estimativa inicial na propriedade era colher entre 65 sacas a 70 sacas por hectare, mas 10% dos quase 5 mil hectares já plantados deve ser perdido. As primeiras plantas estão com porte muito abaixo do esperado”. O agrônomo frisa que, se não chover nos próximos dois dias, mais 600 hectares já plantados estarão em risco de replantio.
No município vizinho de Alvorada, o produtor Alexsander Rudimar Borghetti comemorava a volta da chuva na segunda-feira, após quase 20 dias sem precipitações. Em 2,7 mil hectares, o plantio chegou a 60%, e estava pausado desde 15 de novembro.
Além da falta de chuva, Borghetti comenta que o sol escaldante, com temperaturas altas variando entre 38° C e 40° C, prejudicam o solo e as plantas. “Temos talhões debilitados, com certeza terá perda de produtividade”, comenta. Dos 60% plantados, ele acredita que metade está em condições ruins, em que plantas morreram ou nem nasceram. O produtor comenta ainda que deve passar um pouco da janela de plantio, o que deve comprometer a safrinha.
Alexsander Rudimar Borghetti, vê pessimismo com a safra após clima instável: “Temos talhões debilitados, com certeza terá perda de produtividade”,
Arquivo pessoal
A 600 quilômetros de Talismã, os produtores de Barreiras (BA) enfrentam excesso de chuva, o que impede a finalização da semeadura, diz Rosi Cerrato, presidente do Sindicato Rural de Barreiras. “Os produtores que semearam mais tarde precisam que a chuva pare ao menos por dois dias para terminar o plantio, que está 70% concluído aqui.”
Mapeamento
Thadeu Teixeira Júnior, agrônomo da Secretaria da Agricultura e Pecuária do Tocantins (Seagro), explica que a região Sul do Estado tradicionalmente registra menor ocorrência de chuvas neste período. De acordo com ele, a pasta trabalha no mapeamento da situação das lavouras de soja atualmente. Teixeira adianta que mesmo com a estiagem da região, os produtores devem conseguir bons resultados. “Quem plantou muito cedo, pode ter defasagem na produtividade em comparação com anos anteriores”, diz.
O agrônomo destaca a importância da palhada no solo como estratégia para enfrentar períodos de falta de chuva e evitar o replantio: “o desenvolvimento das plantas é visivelmente melhor, pois o solo consegue manter a umidade”. O comprometimento da segunda safra, segundo ele, também pode ser minimizado com culturas alternativas ao milho, como sorgo, gergelim, milheto e feijão mungo.






