Finalizada a colheita de grãos da safra 2025/26 nos Estados Unidos, os produtores locais já começam a fazer as contas para saber qual produto será mais rentável na nova temporada, que será plantada a partir de abril. Mesmo com cenário mais favorável para a soja em detrimento do milho, segundo cálculos do mercado, não está claro como a relação EUA-China vai afetar os produtores de grãos americanos. Essa incerteza pode favorecer os agricultores brasileiros.
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A partir de abril, os americanos iniciam o plantio da safra 2026/27. Diferentemente do Brasil, nos EUA não é possível fazer duas safras numa mesma área. Logo, os agricultores precisam optar pela soja ou pelo milho. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), em 2025/26, o milho ocupou 39,9 milhões de hectares nos solos americanos, área 8,7% maior que a cultivada no ciclo anterior. Já o plantio de soja somou 32,8 milhões de hectares, queda de 7,1%.
Luiz Fernando Roque, coordenador de inteligência de mercado de grãos da Hedgepoint Global Markets, afirma que na safra 2025/26, o produtor dos EUA fez as contas e viu que o milho estava mais vantajoso do que a soja, também em função da guerra comercial entre EUA-China. Para a temporada que se avizinha, o cenário pode mudar, mesmo com incertezas nas relações comerciais.
“Atualmente, a relação de preços está mais favorável para o plantio de soja. Mas, ao mesmo tempo, ainda há muitas dúvidas sobre a demanda por soja dos EUA por parte da China. Embora haja uma trégua comercial no momento, as coisas mudam rapidamente, e não está claro quanto a China vai demandar de soja dos EUA”, diz.
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No fim de outubro, o presidente Donald Trump declarou que a China compraria 12 milhões de toneladas de soja dos EUA ainda em 2025. Recentemente, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que prazo para venda do volume seria até fevereiro de 2026. Pelos números oficiais do USDA, a China adquiriu pouco mais de 3,5 milhões de toneladas de soja americana desde o fim de outubro.
Roque observa que o plantio de soja só ficou mais vantajoso após a trégua entre EUA e China, que destravou as vendas ao país asiático.
Na visão de Marcela Marini, analista sênior de grãos do Rabobank Brasil, o produtor americano vai adotar cautela, até haver uma definição sobre o comércio de soja entre EUA e China. “O produtor dos EUA vai esperar até fevereiro para ver como serão as negociações de soja com a China. Fala-se em 12 milhões de toneladas, mas grande parte do mercado vê um risco de essa meta não ser atingida. Se a China não comprar todo esse volume, pode haver novas quedas no preço da soja, o que levaria o produtor a aumentar a área de milho em detrimento da soja”, diz.
Evolução da área de milho e soja nos Estados Unidos
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Para ela, caso as relações EUA-China piorem e voltem a prejudicar o comércio de soja entre os países, o Brasil pode aumentar ainda mais seu protagonismo no mercado chinês. “Independentemente do cenário geopolítico, a soja brasileira tem se mostrado mais competitiva que a americana e a argentina, aumentando sua disponibilidade e relevância no mercado ano a ano. Por isso a China se sente confortável em buscar produto do Brasil”, ela observa.
Pelas projeções de Luiz Pacheco, analista da T&F Consultoria Agroeconômica, deve haver redução de área tanto de soja quanto de milho nos EUA no próximo ciclo. Ele acredita que os preços da soja deverão subir no Brasil, caso os EUA reduzam a área destinada ao cultivo da oleaginosa. “A soja vai subir lentamente no Brasil, mas de maneira firme, porque a demanda que não vai para os EUA virá para cá. Mas essas altas vão depender das flutuações dólar, que deve ficar mais volátil em ano de eleições”.