O primeiro laboratório de Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide (ICSI) para equinos do Sul do Brasil começou a operar no mês de outubro em Pelotas (RS). Com um investimento de US$ 800 mil, a estrutura é resultado da parceria do médico veterinário gaúcho Felipe Hartwig com a maior rede de embriões in vitro do mundo, a InVitro Equinos, que atua na reprodução assistida de animais, com a possibilidade do uso de material genético escasso, inclusive de animais que já morreram.
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A técnica de ICSI consiste na coleta (aspiração) de óvulos que, em laboratório, são avaliados e submetidos à maturação, para então serem fertilizados in vitro (fora do organismo do animal).
“É um procedimento de extrema precisão, em que usamos uma agulha para injetar o espermatozoide no interior do óvulo. Após um período de incubação, esse óvulo fertilizado converte em embrião. Todo o processo dura em torno de dez dias e o embrião está pronto”, explica Hartwig. O produto pode ser mantido criopreservado (vitrificado e armazenado) em botijão de nitrogênio líquido por tempo indeterminado, até o momento de ser usado na égua receptora que vai gestar esse embrião.
Controle genético possibilita que uma biopsia no embrião revele a presença de doenças
Divulgação
O sistema permite produzir embriões do sexo desejado, macho ou fêmea, a partir da utilização de sêmen sexado. O controle genético ainda possibilita que uma biopsia no embrião revele a presença de doenças geneticamente transmissíveis e até a pelagem do produto, antes mesmo da transferência do embrião.
“Já produzimos embriões aqui, que estão prontos para serem transferidos às receptoras, e dispomos de tecnologia para atender à crescente demanda do mercado”, explica Hartwig.
Este é o segundo laboratório ICSI da InVitro no Brasil, que já possui uma unidade em Mog Mirim (SP). A importância do mercado gaúcho foi um fator que levou à abertura da nova unidade. “No ano passado, mais de dois mil embriões foram produzidos por ICSI para clientes gaúchos, que precisaram enviar os óvulos para o Estado de São Paulo”, revela Hartwig, especialista em fertilidade equina.
Por ser um processo curto e otimizado, a ICSI possibilita, por exemplo, que éguas de competição reproduzam sem interromper a carreira atlética. No caso de fêmeas com problemas de fertilidade ou maturidade avançada, é a técnica mais eficiente para obter produtos desses animais. Entre garanhões com sêmen de baixa qualidade ou pouca disponibilidade, há uma otimização do material genético, pois é utilizada somente uma pequena fração de sêmen congelado, se comparado a uma inseminação convencional.
Sede do laboratório InVitro Equinos em Pelotas (RS)
Divulgação
Outra vantagem da técnica, segundo Hartwig, é que o material genético pronto é um seguro da genética do animal, visto que, mesmo quando ele estiver senil ou morto, poderá voltar a ser um reprodutor.
É o que acontece com o garanhão vivo mais importante da raça Cavalo Crioulo na atualidade. Vencedor da competição Freio de Ouro e pai de outros campeões, Ganadero da Harmonia está aposentado das coletas, mas nos próximos meses seguirá reproduzindo sua genética com o auxílio da técnica ICSI.
“Ele já tem palhetas de sêmen congeladas, a produção de novos embriões será muito importante para a raça, afinal estamos falando de um verdadeiro patrimônio da raça Crioula que, aos 30 anos de idade, é o garanhão vivo com a maior pontuação no registro de mérito da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC)”, ressalta Hartwig.