
Os casos recentes de contaminação por metanol em bebidas alcoólicas brasileiras já provocam efeitos em cadeia, do comércio internacional aos bares e restaurantes no país. Enquanto importadores estrangeiros suspendem cargas por temor de contaminação, empresas e entidades do setor reforçam protocolos de segurança e comunicação para conter a crise de confiança com os consumidores.
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De acordo com o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), ainda não há qualquer restrição oficial de países parceiros, mas cargas de bebidas alcoólicas brasileiras, como conhaques e espumantes, vêm sendo rechaçadas por importadores estrangeiros, gerando preocupação no setor.
“É importante destacar que as empresas legalmente constituídas e fiscalizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária cumprem padrões de qualidade e rastreabilidade. Até o momento, não há suspeitas de envolvimento de produtores legalizados”, garante o presidente da entidade, Janus Pablo Macedo.
Até o momento, os casos de intoxicação registrados em diferentes Estados e que já resultaram em mortes e internações estão ligados à atuação de fabricantes clandestinos.
A fraude consiste na adição de metanol, um álcool altamente tóxico, a bebidas destiladas, prática criminosa que reduz custos de produção, mas causa lesões graves ao sistema nervoso e pode levar à cegueira ou à morte. Para o Anffa Sindical, o caso reforça a importância de fortalecer os mecanismos públicos de controle, com investimentos em inteligência e inspeção.
“É preciso garantir que apenas produtos seguros cheguem ao consumidor”, defende Macedo, que anunciou a criação de um grupo de trabalho interinstitucional com o Ministério da Agricultura e outras autoridades para aprimorar a rastreabilidade das bebidas e combater a clandestinidade.
Nos bares e restaurantes, o impacto é sentido diretamente nas vendas e no comportamento dos clientes. Elisson Dias, sócio do Grupo 3T Brasil, holding especializada em bares, afirma que o setor vive uma crise de confiança e que a queda no consumo chegou a 50% em alguns estabelecimentos, e a preferência de quem decide sair é por bebidas não destiladas.
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O grupo é proprietário do Pasquim Bar e Prosa, A Saideira, A Ventana e Empanadas y Tal, com 33 operações em seis estados brasileiros, distribuídas em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
“Estamos vivendo uma crise de confiança no setor. Sempre tivemos protocolos rígidos e rastreabilidade de toda a cadeia, com compras feitas apenas de distribuidores homologados. Nunca deixamos de oferecer um atendimento seguro. O que mudou foi a forma de comunicação com o cliente”, diz.
Segundo Dias, o grupo vem investindo em transparência para restabelecer a confiança dos consumidores. “Estamos usando nossos canais de comunicação para explicar os processos, treinando as equipes e preparando panfletos para que o cliente entenda como garantimos a segurança dos produtos.”
Além do controle na origem das bebidas, o grupo também atua na chamada cadeia reversa para evitar que embalagens sejam reutilizadas. O protocolo, originalmente desenvolvido pensando em reciclagem, tem sido um forte aliado contra a falsificação.
“Nós trituramos as garrafas no próprio restaurante para que elas sejam levadas para a indústria, onde serão recicladas. É uma medida que garante segurança, porque impede o reuso de embalagens, e ainda reduz nossos custos. Gastávamos, em média, R$ 3 mil por loja com reciclagem, agora esse valor caiu para cerca de R$ 300 mensais”
O projeto é desenvolvido em parceria com indústrias e outras empresas do setor, como Seiva e Heineken, e busca otimizar o retorno das embalagens às fábricas. “É um trabalho 360, que afeta a cadeia de ponta a ponta. O retorno mais efetivo evita falsificação e fortalece a sustentabilidade do processo”, explica.
Enquanto o poder público intensifica as ações de controle e o setor tenta recuperar a confiança do consumidor, o alerta permanece: em caso de suspeita de ingestão de bebida falsificada, a recomendação é buscar imediatamente atendimento médico de urgência e acionar um dos canais de orientação especializados. Veja quais são eles:
Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001
CIATox da sua cidade (lista disponível aqui)
Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 – atendimento nacional